segunda-feira, agosto 16, 2010

Viseu - Onda de violência

Na madrugada de sábado para domingo, uma violenta onda de destruição assolou a Quinta do Bosque.
Provavelmente pela madrugada, com paralelos extraídos dos passeios, vários veículos estacionados foram alvo de um inusitado ataque.
Segundo uma das vítimas, terão sido pelo menos 13 as participações que deram entrada na PSP.
O(s) autor(es), à pedrada, partiram vidros e danificaram portas e painéis laterais. Os veículos em causa, ignoramos se houve similares ocorrências noutras partes da cidade, encontravam-se no seu normal estacionamento em torno do Hotel Montebelo, para montante e jusante. Um deles, que tivemos oportunidade de observar, um Discovery, tinha o vidro traseiro completamente estilhaçado, idem o vidro lateral esquerdo, o da frente rachado e o painel direito apedrejado em vários sítios. No solo, estavam os paralelos utilizados, arrancados do passeio.
Conjecturalmente, esta sanha, não terá por móbil o furto, mas a vandalização por diversão.
Não é crível que um bando viesse de fora fazer tal serviço, que nenhuma mais-valia material lhe concederia. A serem jovens moradores na periferia do local, àquela hora da noite, poderiam regressar de discotecas ou bares. Assunto que a PSP/PJ apurará.
Facto assente, é que tal atitude gerou uma vaga de receio num dos locais mais sossegados da cidade de Viseu, que a não ser imediatamente investigada com resultados positivos, exemplares e concretos, corre o risco de se tornar numa onda galopante de semelhantes ou piores acontecimentos.
A serem jovens, é ainda de crer que muitas instituições estão a colapsar. Começando pela Família, que não educa, pela Escola, que não ensina e pela Justiça que não é respeitada.
A PSP não pode estar em toda a parte. E em boa verdade, com frequência, vemos carros patrulha, alguns a cair de velhos, patrulharem esta zona. A PSP, com os meios humanos e materiais cada vez mais reduzidos e/ou obsoletos, tem dificuldades acrescidas em enfrentar uma escalada de acções deste género. Quanto à Polícia Municipal, por ignorância dos seus conteúdos funcionais, não nos pronunciamos.
Pontuais focos de violência diversificada, nesta época, surgem por todo o distrito. Tivemos conhecimento da ocorrência, numa vila próxima, que nesta altura tem imensos emigrantes de férias, de um desacato dentro de um bar que dista menos de 100 metros do posto local da GNR, fez sábado oito dias. Chamados a intervir, em número muito inferior aos jovens emigrantes, na sua maioria de bairros periféricos de Paris (les banlieus foutues), os agentes foram violentamente agredidos. O assunto resolveu-se este sábado, com uma acção vigorosa da Brigada de Intervenção, que apareceu de surpresa e em igualdade numérica.
Estas desordens são sinal dos tempos. Esta violência social, é globalizada. Ainda mal a conhecemos, mas ela chega, na proporção directa do estado a que o país chegou, com um número de desempregados nunca visto, com a Família desagregada, e na sua precariedade, em guerra, com uma Escola que foi diabolizada e desautorizada pela tutela, também ela cenário das mais diversas violências, com uma Justiça que transmite uma situação generalizada de impunidade.
Mal está um país quando os cidadãos apelam ao que sempre menos desejaram, um Estado mais policial...
E se um dia, um pacato cidadão, impotente e esgotado, sair em defesa de sua propriedade? Será agredido, talvez abatido?
Não entoamos o hino do alarmismo, mas o certo é que, na Quinta do Bosque, a partir de hoje reina a inquietação. E quando o medo se instala e o morador se vê privado da sua liberdade de sair à noite, para um passeio pedestre com a família, se vê invadido do receio de estacionar o seu veículo à porta de casa e demais trivialidades deste tipo, podemos recear que o cidadão comece a agir em conformidade com os factos... e daí à reciprocidade ou legítima defesa, a distância é escassa. E alguém, decerto, poderá, um dia, sair aleijado deste thriller made in USA!
Porém, é premente não esquecer que tudo isto é um efeito. E que apenas o constatamos. Com isenção. Mas não deixamos de apontar o dedo à causa: uma sociedade em crise, cada vez menos afectiva, que só pode e sabe ser geradora, não dos afectos que não tem, mas das violências, pressões, marginalizações, carências e crescentes injustiças sociais e desigualdades a que está sujeita, em todos os seus núcleos: familiares, educativos, profissionais.
Onde vamos chegar, nesta espiral de angústia?
Mãos à obra, senhores que têm o poder e o dever! Mostrem quanto valem!