quinta-feira, outubro 23, 2008

I.
Preparei-te desolado o banquete.
Sobre o linho e dentro do círculo das camélias
te aguardavam o leite quente exuberado das cabras da montanha,
o vinho exaltante da cepa velha
e o mel de rosmaninho das escarpas soalheiras.

II.
Não vieste triunfante e como heroína.
Nem mesmo vieste.
E só o teu fantasma paira sobre a mesa das vitualhas.

III.
Aguardei-te o ciclo de três luas
e olhei impaciente a ramaria húmida dos teixos
enquanto as fenecidas camélias
continuaram a ornar o coalho do leite azedo,
o vinho avinagrado e o mel bolorento.

IV.
Aos primeiros trigos da colheita
convoquei os esfaimados
-- cuja carpição é amplamente ambígua
e os gritos se confundem com qualquer dor --
e ávidos, todos comemos o frugal pão ázimo de arval
e bebemos das ânforas o fel que redime entranhas soluçantes.

V.
Até que ensombreceram os dias e os marantéus voaram para o sul.

VI.
Então, parti...



pn, in Ave Azul