' l'ombre de ton ombre / l'ombre de ton chien '
Que dia sombrio! Basta passear pelo bosque para sentir a confusão. A Natureza anda enganada e doída. Pelo tempo. Tempo meteorológico. Que ora a saúda com sol para lá de cálido, ora a queima com geadas que a noite sopra. E as árvores, as plantas, ingénuas ao seu cíclico modo, florescem num dia para noutro fenescerem, numa extemporaneidade factícia, produzida pela imaginação.
Por sua vez, o tempo anda irado com o homem, a quem já não tolera mais agressão. E passou de agredido a agressor. E então, esse tempo, com mais anos que os anos, de súbito, da sua longa hibernação em redor da qual o homem construiu suas rotinas, acorda fervilhando em raiva, e altera o mundo com seu bafo amostrengado. E em breve, choverão areias finas do Sahara no norte frio. As águas gélidas serão caldários lagos no sul. Os mares ganharão a terra indefesa. O vento endoudará. O sol perfurará as rochas. O ácido, em cordas soltas das nuvens tristes, corroerá o universo. O fogo erguer-se-á da terra abrasada.
Apocalypse now, again?, ou apenas um dia sombrio de Abril, no bosque, com esquilos fulvos nervosos, frente à minha casa?
E o que tem o "bonecro" a ver com o texto, perguntarão perspicazes? Nada. Foi feito ontem, em hora igual ao dia de hoje, desinspirado. Tempo de sonho abandonado, do ser, feito de linguagem, por vezes solto(a), sem sintaxe, numa liberdade condicional, ridente e consolada da efémera transgressão.
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