Inclemências...
19H33, em Viseu.
Maravilhosa natureza!
Inesperada, exausta, desesperada, tem sempre a surpreendente competência e o condão de nos impor um respeito duradouro e renovado.
Como certas pessoas reais, ou até personagens ficcionais, muito redondas. Nunca sabemos tudo delas e nunca deixam de nos perturbar com uma atitude nova, inusitada, reveladora de uma faceta jamais entrevista e de um carácter em célere mutação...
Hoje, a natureza, despediu Agosto, esse mês consagrado a Augusto, com bátegas rijas de chuva, bailarinos ventos onde o pó e as folhas rodopiavam entontecidos e uma úmbrea cor celeste, tão pesada quanto o estanho que a coloria.
E nós, acoitados como laparotos na lura refunda, ouvimos o assobio ritmado ao sínfono batuque rufado da água dos prumos tombada, e refogados num caldário lento, surpresos, medimos tal tempo, e ligeiros na rotulagem, apodamo-lo de infiel.
Mais certo, porém, seria perceber-lhe, na volúvel inconstância, o desgosto toldado em ira, de um despertar assanhado e brusco, por garra acutilante do homem insensato e descurado do seu provir.
Este homem insciente, ou melhor, inconsciente, só rendido ao desrespeito e à ganância, porfiando na agressão desta madre milenarmente pródiga, tolerante e amaviosa.
E se a compararmos a qualquer matéria ou material, percebemos, sem ilusões, que a resistência chegou ao fim, e que a flexibilidade humilde de aceitação cristã da bofetada no rosto, se retorquiu violenta, em murro de resposta à agressão.
O homem, esse presumido pseudo-deus, que se crê vaamente imortal, desdenha do futuro onde não seja protagonista. E despreza, até, os filhos que gerou e serão, amanhã, os lazarentos herdeiros do caos que recriou.
São 19H51. A noite cai, o vento sopra e seca a chuva, mas rende-se às nuvens que ameaçam o amanhã...
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