quinta-feira, fevereiro 19, 2009

'deprimere', foi... pesar de alto a baixo (e humilhar)

Acinzento-me em tácita consonância com o tom do céu escuro e pesado como o chumbo a quem furtou a cor e eu o peso depressivo da melancolia.
Como houvera aliás de resistir se até o mar sem fundo e fim que é azul e verde e brilha hoje é cinza em movimento cadenciado de lava fria sem graça?
Estamos tristes, o tempo e a paisagem e eu… como é boa esta harmonia grandiosa! Porque estás feliz, não participando nela? Porque estás contente? Olha em redor de ti e melancoliza-te solidário e humilde e com respeito!
Não sabes ainda que o sol é vida e a noite morte? Que a chuva são as lágrimas de dor da natureza? Que os trovões a sua ira? E os raios a sua ígnea maldade? Que o sal do mar vem das lágrimas choradas e nele vertidas?
Esqueceste a subtil sabedoria da infância.
A lógica racional fez-te sisudo sabedor roubando às coisas a grácil inocência do mistério, fazendo do deus sol uma estrela, das palpitantes trevas noite, do fértil dom das nuvens chuva, da ira de Júpiter electricidade estática, e do sal já não lágrimas poéticas mas um fenómeno qualquer acre e sem graça.
Como sem graça e amarga é a nossa vida da qual já tudo sabemos sem ilusões nem mistérios…
Por isso me acinzento e em milagrosa inversão sinto a reverência humilde do céu e do mar, do tempo e da paisagem, tristes da minha tristeza, deprimidos pela minha depressão, e todos juntos, melancólicos
!