sábado, março 31, 2007

onde alcança o som?

tanta voz nos peitos muda
tal fragor nos promontórios
quando apenas ver-te quero

provincianos sábados de um labrusco serrano


mais um sábado, desta vez rumo aos Montes Hermínios, no rasto do Viriato...

três lembranças: o frio d'enrijar, a "fritada" que soube tão bem quanto mal fez e a boa camaradagem nas andarilhanças beiroas...

fotografias... a máquina "encolheu-se". só da chegada a casa, ainda ofegante...





Guillevic, Le Chant, Gallimard, 90

Au mur lui-même
Il arrive
De chanter l'espoir.

(...)
Quoi donc, ce matin,
Dans ce corps qui est le tien
Peut chanter aussi bien.

sexta-feira, março 30, 2007

carta da noite



"carta da noite que o dia recebe no seu colo vagaroso e apaziguador. carta que a noite sempre me dita e eu contenho para que não grite. é esta a carta que ando a escrever nos intervalos vagos do pensamento para te dizer do lugar do vento na tua ausência, o vento como vaga que vem da tua boca para a minha. carta que te quer dizer dos sobressaltos da noite, as descidas profundas para o teu nome, os socalcos prazenteiros que se abrem ao sol de outono quando te penso perto. carta que te fala dos sulcos da pele, da vaga impressão de desamparo na falta do teu corpo. carta esta onde te tenciono falar do calor que me ruboriza ao saber-te do lado de lá a falar-me calmamente, ouvir a tua voz vagarosa e simples dizer-se e eu responder, deixar o serão envolver-nos na sua manta quente, é sempre inverno quando a noite chega e a tua presença me cresce dentro como um fogo a incinerar devagar o tempo."

(...)

ana

ocaso

toma... um crepúsculo que roubei ao teu doiro!

para a elfi


terás que adivinhar as palavras que podia escrever...

para a alice

meninas bem comportadas, antes de versejarem ao luar campestre, dois madrigais galantes

"n" - já só de nostálgica

as-minhas-inexistentes-sempre-presentes-companheiras

"t" - só de triste


despedida

havia tanta gente no cais
havia tanta cinza no mar
saudade
luz
dor
dolente acenar...

quinta-feira, março 29, 2007

meu ermitério

um teresa trigalhos com seus fantasmas

um androgínico viana...

aqui me quedo horas a fio de dias desfiados
(faltam os cães deitados nos sofás azuis)

em exposição permanente, quebro a solidão com um crepuscular san payo, e uma dama, minha companheira de leituras

um mário silva, da fase rosa, coimbra vista de além mondego

um torso da maria joão franco
& etc.
(para não fazer concorrência às galerias... hoje fico por aqui)
todos estes quadros têm uma estória pitoresca,
um dia conto...
como este da mjf, que estava no escritório do marchand, na parede, detrás de uma imponente secretária, e que ele não vendia por dinheiro nenhum, tendo sido uma oferta da pintora, que ele estimava acima de todos os artistas ...








ordeno a saia aliso o seio...


(...)

"na sóbria murta ordeno a saia

aliso o seio queimam-se as vozes
a tarde rouba a Vénus os cabelos


e o fogo arde transversal pelos canteiros"


ana

o despertar da natureza - (para a Ana)


a feérica urbe - triptíco (para a "Velas")







terça-feira, março 27, 2007

violetas

sofro
insofrida
desmesuras minha dor

essência

nada é fundamental
a ferida arde hoje
e será cobiçada

núcleo do ardor

gostava de descer aos infernos
para te encontrar
e junto a ti serenar

para a alice

murmura o som da água
a mouta dorme
o mocho dizidor de agouros clama à cotovia

segunda-feira, março 26, 2007

âmago

veia de loucura
venerada na pulsão
nela correm sangues de vénus

especular

a calúnia maligna
na boca e bulha de ser
estilhaçou sete espelhos

domingo, março 25, 2007

canto constante




253.

gostaria de ouvir contigo

esta peça de jazz

falar humilde sobre conversas de músicos



254.

e passear por entre as vinhas

e os pomares

subindo o rio



255.

sensíveis

à magia singela

do encantamento



256.

caminharmos lado a lado

pisando a terra vermelha

num mesmo impulso par e passo



257.

sorvendo o ar

ouvindo as narcejas

e roçagando as mãos



258.

estremecer

sob a velha figueira

ao saboreio do figo de mel



259.

regressar à casa de xisto

fresca e umbrosa

e saudar-te com vinho tinto boroa e o latir dos cães



260.

ouviríamos mais jazz

olhos fechados

a haurir a felicidade



261.

é minha proposta

aceitas

ou outros chamamentos te atordoam?



Nota:
há seis anos...

provincianos sábados de um labrusco serrano

um péssimo modelo e um mau fotógrafo = uma fotografia estragada!
saboreiem a sonoridade telúrica e d'antanho desta toponímia, hoje corrida:
Moselos
Bigorne
Gosende
Feirão
Arco
Vinhós
Resende
Rendufe
Bulho
Massorra
Porto de Rei
Caldas de Arêgo
Cinfães
Portas de Montemuro
Castro Daire
...
(isto soa a godo, astrogodo, suevo, alano...!)

sábado, março 24, 2007

DOIRO

Impacientes, os cavalos, todos da mesma raça...
a bordo por este rio acima

as cerejeiras, que frutificarão em Abril
pontes baixas
& pontes altas

e belas residências lacustres
de uma margem e de outra
18:00 ---» por este rio abaixo...

Corre, caudal sagrado,
Na dura gratidão dos homens e dos montes,
Vem de longe e vai longe a tua inquietação...
Corre, magoado,
De cachão em cachão,
A refractar olímpicos socalcos
De doçura
Quente.
E deixa na paisagem calcinada
A imagem desenhada
Dum verso de frescura
Penitente.

Miguel Torga, Diário XI

cherry trees day

lá vou a "voando" para o Douro
ainda lá chegarei hoje?
cerejeiras em flor...
barco fretado a rigor...
almocinho à beira rio...
e uns fados de Coimbra (?!?)
depois conto-vos,
porque hoje é sábado...
(a inveja é feio sentimento!)

sexta-feira, março 23, 2007

o entreaberto tom


evanescência

evanescente emanação
das cores
da juventude

a Primavera...

... na sua graciosidade e esbelteza
só podia ser feminina!

ah! os olhos rendidos...

ousado rebuço
singelíssimo pejo
atrevido pudor


quinta-feira, março 22, 2007

gladiado corpo


reptante ofídio
de pele muda
corusca
na coruta
e o poro
fende

quarta-feira, março 21, 2007

21 de março de 2107 : da janela do meu quarto


noite no bosque


revisitação

porfiado te revisito
além de todas as horas
as horas todas
em que teu olhar me chama

poiesis


neste sítio, cada um dos 365 dias do ano, é dia de poesia !

hypnos




olho-te horas a fio...
nas parcas palavras (con)sentidas
nas imagens só veladas
deus voo