sexta-feira, outubro 31, 2008

Cancioneiro Geral de Resende, Juan Gomes

Vos deveis logo d'andar
sem tardar
a buscar absolvição
ao mosteiro de Lorvão
vossa pendença fareis
como fez el-rei Rodrigo
mas em moimento, vivo,
com cobra não entrareis.
Porque, se assim o fazeis,
pagareis
pela língua com razão
o trovar de maldição.


(a propósito de uma lápide que existe na capela de S. Miguel do Fetal, em Viseu, com os seguintes dizeres: Aqui jaz D. Rodrigo, último rei dos Godos, si vera est fama).




procissão


quinta-feira, outubro 30, 2008

o incunábulo...




Alves Redol

O Cavalo Espantado, de Alves Redol, em 1ª ed., da Portugália Editora, Lx, Dezº 1960, c/ dedicatória autógrafa do autor.


quarta-feira, outubro 29, 2008

pathos --» paixão


espiralogia

Madame, mais vous ne l'ignorez sûrement pas,
on ne doit pas distordre sur distorsion...
sinon, d'un coup, on se risque à perdre l'axe de la transgression (ou le noyau de braise?).

Marie Cécile, a etíope.


terça-feira, outubro 28, 2008

Os "bocas de sapo"

Os "bocas de sapo" foram um modelo omnipresente na família. O 1º, de matrícula 3715GP78, trouxe-o o meu pai de Versalhes, quando trabalhou no Consulado Geral de Portugal em Paris (rue Edouard Fournier, Paris 16è), no início da década de 60. Depois sucederam-lhe uma quantidade deles. Quando envelheciam, passavam para mim, moçoilo sem chêta, sempre em panne sêca, pois não tinha $ para lhes meter 4 litros de gasolina no depósito, quanto mais os 64 que levavam... Ainda sobreviveram dois que para lá estão na garagem do Sátão, parados desde 1985, à espera que lhes deite a mão, um ID (Idée) e um DS (déesse) 21 Pallas. Acho que aprendi a fazer "quase tudo" dentro destes modelos da Citröen ...

segunda-feira, outubro 27, 2008

à ara...


domingo, outubro 26, 2008


Andam feridos versos carregados
de chuva doída caída dum céu
a quem o infortúnio disse tecto
e onde em cada rima apenas chora
a cinza já nem cálida ou morna
do dia antes calúnias cálices
cales de oxidar a feles ocultos
e solutos pandas cordas mudas
de frouxo retinir mui fatigadas.

Coisas de há décadas...

O meu pai - Álvaro de seu nome - tinha, entre outros, o gosto pelos automóveis. Dois dos primeiros que eu recordo, um Renault "Joaninha" (4 cv), em azul cueca (ou camisa de polícia), e um Cooper S, em cinzento com o tejadilho preto. Aprendi a conduzir no primeiro, com 9 anos. Com o segundo tive o meu primeiro acidente, com 12 anos, ao sair de uma curva sem visibilidade, à toute vitesse, deparei-me com a traseira (demasiado lenta para o meu embalo) de uma camioneta de carreira. Travões a fundo, qual fundo? eram de tambor e precisavam de 3 ou 4 bombadas no pedal antes daquilo funcionar! Travei na camioneta...


Neolítico


a estrada


sábado, outubro 25, 2008

marantéu ferido

(clique)

Louvor a Celidónia Violas

Partia sempre com um olhar triste de cão. Por não ir para onde queria e deixar a desejada. Mas era assim que tinha de ser. Seguia pela rua fora sem olhar, agitando a cabeça aos ruídos. Por vezes pensava que num sítio sem sons ficaria surdo. E então teria mais ânsias de olhar. Como a maioria dos movimentos do corpo, tornara-se automático. Tudo pulsava para fora de si, ausente dela. E perto dela, ou a ela junto, por ser a única forma de estar com ela, tudo retia como lava à boqueira do vulcão. Junto dela, Celidónia, olhava-a horas a fio, a vê-la muito. Dormir. Segui-a, acordada, desejando pisar seu rasto nas tábuas do soalho. Se Celidónia falava, então, a boca secava-se-lhe no pânico de perder uma palavra e destruir a frase da relação. Não lograva tocar-lhe com dedos ou mãos. Tocava-lhe com o corpo, numa plenitude de consagração. E quando Celidónia, de olhos cerrados, narinas frementes, rumorejava algures na garganta rouquidos sons, ele pasmava a ver pingas de luz prateadas brotarem da testa e têmporas assim perladas. Um zunido, então, som da paixão, abria-lhe os lábios e os hálitos de ambos estreitavam-se até à flecha das línguas, como o espírito santo em fogo ardente, entrar no núcleo do alvo. Alheias as mãos, o algodão do vestido roçagava os poros num bailado onde a imobilidade se avassalava num auge de desejo. O desejo mais silente fruído com o freio da contenção ciente. Certos do mor domínio e da perduração até à dor, rés à insania, da paixão que partilhavam, sentiam a exuberância daquela exaltação. Insustentada a tensão, tirava o corpo do corpo, febril trincava uma maçã, estremecia num tremor que a casa acatava, e bebia a seiva que as veias não continham, masseirada na polpa do fruto. E de repente, o limiar da porta, em absoluto, abria-se-lhe para o dia amável de Celidónia alheio. Triste de uma tristeza de dor que não se grita, assim partia para onde não queria, agredido pelo sol, pelas túbaras do universo alheio e, congregando toda a paixão em si, avançava rua afora como chaga dos sentidos, ferida de onde não supuram dores retidas. Uma arte assim, de sofrer, alcandorados no ninho da águia... Voltava e Celidónia de pé permanente à mesa encostada, enclavinadas as mãos tais garras na madeira, esperava. Os olhos mais cerrados ao som da porta. A respiração mais arfada. Mais perlada a testa alta de prata daquele ardor. Acomodava seu corpo ao dela. Profano se quedava no portal da sagração.

gnomo


onirografos

( clique)

sexta-feira, outubro 24, 2008

O maior souto lusitano


quinta-feira, outubro 23, 2008

Claustros da Sé - Viseu


sempre se poupa na tinta

Alhais

I.
Preparei-te desolado o banquete.
Sobre o linho e dentro do círculo das camélias
te aguardavam o leite quente exuberado das cabras da montanha,
o vinho exaltante da cepa velha
e o mel de rosmaninho das escarpas soalheiras.

II.
Não vieste triunfante e como heroína.
Nem mesmo vieste.
E só o teu fantasma paira sobre a mesa das vitualhas.

III.
Aguardei-te o ciclo de três luas
e olhei impaciente a ramaria húmida dos teixos
enquanto as fenecidas camélias
continuaram a ornar o coalho do leite azedo,
o vinho avinagrado e o mel bolorento.

IV.
Aos primeiros trigos da colheita
convoquei os esfaimados
-- cuja carpição é amplamente ambígua
e os gritos se confundem com qualquer dor --
e ávidos, todos comemos o frugal pão ázimo de arval
e bebemos das ânforas o fel que redime entranhas soluçantes.

V.
Até que ensombreceram os dias e os marantéus voaram para o sul.

VI.
Então, parti...



pn, in Ave Azul
Imóvel a morte.
O norte oscila a neve gelada que racha
Acha que arde na estrela
Perdê-la? Não, segui-la.
Na fila que espera queda,
Merda! o medo se esquiva.
Na esquina da rameira poiso.
Oiço. A mort'arfar
O ar transpira o sangue
Langue, a puta esfrega a perna.
Terna ao frio repele
A pele. A morte parte.
Da arte de parir medo
Cedo tu te esquivaste
Hás-de pois seguir a morte.
Sorte que passaste antes da neve
Que cede se rasgar.
Luar que a água sorve fria.
Seria?

pn, in Ave Azul

cerúleos (naturalmente) os anjos


quarta-feira, outubro 22, 2008

Carta a Aquilino - 1918.


Carta a Aquilino, de seu pai, Joaquim Francisco Ribeiro, escrita em Soutosa e datada de 22 de Março de 1918. Interessantíssimo docº. ( Clique na imagem para o aumentar).

A.R. tinha acabado de lançar A Via Sinuosa (1918) e preparava-se para ver prelo Terras do Demo (1919). A. deixa o seu lugar de professor supranumerário no Liceu Camões, em Lisboa, onde reside desde 1915, no Campo Grande, e prepara-se para ingressar como 2º bibliotecário da BN, a convite de Raul Proença.

terça-feira, outubro 21, 2008

Tour Eiffel

Para a minha lusófila amiga, Maria Quintans.

(S) Lips




segunda-feira, outubro 20, 2008

Limiar


Tanatos

No peito atónito
a pedra cai.

Cerrou-te à terra
furtou-te aos dias.

Oxalá um tempo
sem memória
clamores
e gestos vãos
te tomem.

E um vento limpo
assobiará escárnios
e varrerá as cinzas
como acendalho
de lume vil.

O devir do não ser.

Ceifadas as linfas decimais
lá nos sítios dos viventes
ainda alheios dos passos
inexoráveis próprios passos
para a cinza também dados.

Pedras

Silenciosas pedras
sulqueadas em seus troncos
guardam eremitérios
pululados d'idos ânimos.

Arcas retalhadas
lavradas cantarias
florigélios de cinzel
carantonhas escopradas
pétreas cruzes
anhos e águias
tormentosas fácies
em giros minguados
no cardinal eixo dos claustros
erigidos na cabeça da serpente traspassada.

Ainda como se o jogral harpasse liras
pan frautasse nos canaviais d' antanho
ou são gregório em lausperenes
chasqueasse no nó górdio da crasta.

As pedras
limiar dos mundos
madres abertas no absoluto dos espaços
sólidas vigas vigilantes
atalaias do tempo ausente
nas almacaves da noite.

domingo, outubro 19, 2008

Voltas da Sé






Sé de Viseu. Claustros e adro.





sábado, outubro 18, 2008

My Day

Hoje o pn veio visitar-me. Já estou boa, depois de 15 dias com um fleimão. Anteontem fui ferrada e agora só preciso de laró. Trouxe-me cenourinhas e maçãs, escovou-me, desenriçou-me cabos, limpou-me as ranilhas e arreiou-me a preceito.
Ora cá estamos nós prontos para a nossa passeata. (Ou eu estou mais fraca ou o pn mais pesado. Hum!)
(Ó Sra. Dª IMF, tá ver que não são precisas esporas para nada!-- este aparte não é meu!)
Fartámo-nos de cavalgar, mas como eu ainda não estou a 100%, o pn teve muito cuidado comigo e parou quando viu que estava a suar um bocadinho. Depois, tirou-me a sela e a cabeçada (aquele ferro na boca é uma chatice!) e deu-me um banhinho muito refrescante.
Depois levou-me a passear, à mão e com um solzinho que me secou num instante. E lá foi tirando umas fotos para o blog...
Que tal este pescoço e esta linha dorsal, hum?
Ainda estou um bocadinho despenteada...
Ah, esta ervinha verdinha e viçosinha! A bela fulva crina, toda no ar!
E já agora, que andam pr' aí umas manientas co'a mania que são boas, olhem-me para este rabinho, perdão, garupa...!
Ibiza's blue!
Quase sequinha!
Vou-me esconder atrás desta árvore a ver se o pn não me leva para a boxe!
Pronto! Já estou na minha casinha! Para vocês, este adeusinho...
Pró pn, co'a última cenourita, uma festinha. Em surdina, ouvi-o murmurar em bretanhês (deve ter vergonha de o declarar em lusito, ou então é por eu ser irlando-qualquer-coisa) :
(-- I love this mare!)













sexta-feira, outubro 17, 2008

Vamos?

(clique na imagem)

a toga de Petrónio

tarde, mais tarde ainda,
só o espelho te negou...

quinta-feira, outubro 16, 2008

"Carnac"

Quand le géant noir
Qui dort parmi les fossiles du fond des mers
Se lève et regarde,
Les astres aux creux du ciel ont froid
Et viennent se chauffer coude à coude.
Les yeux de cent mille morts
Tombent dans les rivières
Et flottent.

Guillevic, Terraqué, Gallimard, 45.


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