segunda-feira, novembro 30, 2009

limus


domingo, novembro 29, 2009

Meu ver Viseu 4

Qualquer mudança de ângulo altera o objecto, ou melhor, a visão do objecto, que esse, indiferente ao spectator, permanece inalterado. E quando perspectivamos a fartura ancha de uma fachada com duas torres sineiras, reduzida à singularidade de uma só, perdemos o fausto da frontaria tríptica para nos cingirmos à esbelteza que substantiva a unidade. Sobra-nos, pois, a torre, espartilhada e espreitada. Espécie de antena que se vai erguendo para o céu, em sucessivos andares adelgaçados. No fundo, realçando o cumprimento do objectivo inicial e final de cada torre: aproximar-se do céu... metáfora ilusória da domus divina.

Nesta fotografia, a fenda estreita entre a parede e a coluna faz sobressair o grão da pedra e as volutas desta -- nas quais nunca reparamos -- e o granito do fundo, da parede, acamado. Os 'punctum'.
Curiosamente, já recebi hoje alguns mails de amigos/conhecidos viseenses a perguntarem do topos (hoje dir-se-ia coordenadas) de algumas das imagens: em pleno centro histórico de Viseu, na zona circundante da Sé. E porquê o advérbio de modo que inicia o parágrafo? Porque as pessoas, na sua generalidade, perderam a visão. Olham mas não vêem. Sinais da vertiginosa mutabilidade, essa mutação acelerada que faz perder ao homem o desejo de ver, e também da defesa que se instala no 'vidente', tão barbaramente agredido com o que não quer ver, ou poluição visual. Hoje, o olhar está de tal modo subjugado a um dirigismo alheio que no-lo manipula, que desperdiçou (forma de perdição), atrofiou a autonomia ou liberdade da busca. O olhar brutalizado, não alegoricamente vendado como a Justiça, mas pior ainda, antolhado como aos equídeos de tiro de um passado próximo... Se só se deve ver num sentido, ou um sentido, perdemos a polissemia do observado pelo condicionamento ou perda da acuidade visual. E isso é tão perigoso quanto extrapolável deste campus e alargado a uma forma de estar no mundo, do cidadão que perde, pacificamente, o seu direito de intervir, acarneirando-se ou aceitando jugos e cangotes, que sempre tiveram suas mais sólidas bases no atavismo e na ignorância. Ignorante, sendo o que não 'vê' ! Nas trevas, que nos desfocam ou geram opacidades várias, deixamos de vislumbrar os mistificadores e a sua plurivocidade equívoca, geralmente prestidigitadores, de dedos prestes a gerar a ilusão.
(xiiii, que grande palanfrório!)





Jacques Rigaut

"Je serai sérieux comme le plaisir. Les gens ne savent pas ce qu'ils disent.Il n'y a pas de raison de vivre, mais il n'y a pas de raison de mourir non plus. La seule façon qui nous soit laissée de témoigner notre dédain de la vie, c'est de l'accepter. La vie ne vaut pas qu'on se donne la peine de la quitter. On peut par charité l'éviter à quelques-uns, mais à soi-même? Le désespoir, l'indifférence, les trahisons, la fidélité, la solitude, la famille, la liberté, la pesanteur, l'argent, la pauvreté, l'amour, l'absence d'amour, la syphilis, la santé, le sommeil, l'insomnie, le désir, l'impuissance, la platitude, l'art, l'honnêteté, le déshonneur, la médiocrité, l'intelligence, il n'y a pas de quoi fouetter un chat."
Papiers posthumes, 1934.

Meu ver Viseu 3

Retorno, sempre, isotopicamente, nas minhas deambulações pela zona histórica de Viseu, à fixação desta imagem. Espécie de desejo 'ontológico'. Ou segundo Barthes, o 'êxtase fotográfico'.
Esta imagem apresenta vários ângulos possíveis, o seu alvo, o referente, é polissémico. Temos a 3ª dimensão de planos bem delineados na sua profundidade; o arco de volta redonda, pórtico do pátio; as cores frias de onde sobressai o verde do cedro; o pátio do cedro/faia-só, a que o vento dá movimento de contínua dança; as janelas do pátio, 'cour carré', que não dão para lado algum, pois estão cerradas com a mais violenta das gelosias (jalousies, de Robe-Grillet?), o mais empedrenido cortinado/persiana: a pedra. É um pátio cheio de janelas que não servem o objectivo das janelas: as dicotomias, ver/ser visto; luz/sombra; interior/exterior. Torna-se assim no Pátio da Incomunicabilidade, onde resiste um cedro ou faia-só, a dar cor e movimento à emanação/explosão de solidão ocre/cinza do terrível e frio espaço. Como um penar absurdo de Sísifo (revisitar Camus?). Ou a Igreja/Exílio? (olhar Breton).

Meu ver Viseu 2

Um lilaz sem filtros de um dia chuvoso e frio de sábado.
A zona histórica de Viseu, com ousadia e harmonia, vai dando cor ao vetusto e cinzento granito.
Da tegulae à telha, com um amarelinho de permeio.
Quase de uma escarpa irrompem novas habitações, com paisagens desassombradas e (esperemos) preços acessíveis para gerar fixação de uma população mais jovem, numa área demograficamente muito envelhecida.









sábado, novembro 28, 2009

Meu ver Viseu 1

(clique nas fotos)



CONVITE


A Livraria Pretexto e o Montebelo Hotel & Spa têm o prazer de o convidar para o lançamento do livro “Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar”, do escritor António Lobo Antunes, que terá lugar no Montebelo Hotel & Spa, no próximo dia 5 de Dezembro, pelas 21.30hm, seguido de uma sessão de autógrafos.


Livraria Pretexto, partilhamos leituras

As "burras"...

...arcas joaninas, chapeadas a ferro, que transportavam o ouro e a prata do Brasil. Dom João V, de seu completo nome João Francisco António José Bento Bernardo de Bragança, nasceu em 1689 e faleceu em 1750, tendo iniciado o seu reinado em 1707. Deixou-nos, entre outros, o Aqueduto das Águas Livres e o Convento de Mafra (que nos remete, obrigatoriamente, para O Memorial do Convento, de Saramago).


quinta-feira, novembro 26, 2009

Em França...

...apresentando Aquilino Ribeiro a uma plateia muito interessada.
(foto de Cláudio Vitorino)

Messieurs...

le Maire et le Vice-Maire de Sernancelhe, à Montpellier.


quarta-feira, novembro 25, 2009

Maison de l'Europe - Montpellier

Zeus, transformado em touro, seduz Europa que brincava em Sídon ou Tiro. Raptando-a, leva-a no dorso para Creta, junto à fonte de Gortina, onde consumou seu amor.

terça-feira, novembro 24, 2009

'Orlando, O Furioso', de Ariosto

À saída do Polygone, em Montpellier, Rinaldo e o seu cavalo Bayardo.

coda


segunda-feira, novembro 23, 2009

essor


domingo, novembro 22, 2009

Se calhar, nem tudo está perdido...

... este era o título de uma msg enviada pelo meu bom amigo P. Calheiros, com um filme onde se via um adolescente de 16/17 anos, numa praia do norte da Europa (provavelmente) num dia de frio (pelos agasalhos dos transeuntes) a lançar-se a um braço de mar para salvar um cão de uma senhora de idade. O que fez, com eficaz sucesso e despretenciosismo. Como se fosse trivial.
Hoje, a jusante do bosque onde passeio, normalmente, os meus cães, pelas 14H30, vi um jovem de 10/11 anos atravessar a rua com três saquinhos de lixo nas mãos, em direcção ao ecoponto. Com o escrutínio feito, sem hesitar, deitou os sacos nos três sítios certos. Entretanto, vi-o agachar-se e começar a remexer na profusão de sacos que tinham sido despicientemente lançados para o chão, por pouco cuidosas mãos, decerto apressadas e adultas. Pensei, coitado, terá fome e anda a ver se encontra de comer. E ao mesmo tempo que um vago dó se me acercava da garganta, percebi, de repente, que o miúdo apenas vasculhava os sacos para saber do seu conteúdo e os deitar no ecoponto adequado. Demorou, talvez 10'. Deixou o sítio limpo, sacudiu as mãos e, sem olhar para trás, como um pardalito, a saltar, foi-se embora para casa, presumo. São exemplos destes que nos fazem acreditar que ainda há esperança. Este miúdo tem, de certeza, pais preocupados com a educação, com o ambiente e com o futuro, terá bons professores e, mais importante de tudo, tem uma consciência ecológica e rigores de cidadania que faltam a muitos adultos. Ganhei o dia!

Rond-point de Sernancelhe

Em Jacou, Rotunda de Sernancelhe, com escultura de Xico Lucena.
Curiosamente, esta é uma região de França onde não existe uma comunidade portuguesa instalada. São poucos, contam-se por duas mãos, estão perfeitamente integrados e são muito discretos.
O que não impediu que toda a semana fosse consagrada a uma "Hommage au Portugal".
Assim, e nesse âmbito, numa pequena cidade vizinha (Béliers?), na noite do dia 17, fomos convidados a ir ao cinema, depois de uma acolhedora recepção/jantar na Mairie de Jacou. O cansaço não convidava mas a simpatia dos nossos anfitriões era tanta, que não soubemos recusar. Passava a versão francesa de "Capitães de Abril", de Maria de Medeiros. O cinema cheio. O público era francês. Qual a minha admiração ao ouvir, a certa altura do filme, todos os espectadores, em coro, a cantar "Grândola, Vila Morena", com a letra integral, de cor... Foi um momento emotivo, porque feito com espontânea e vivida expressividade.
Dei comigo a pensar: isto em Portugal era inimaginável, por vergonha, atavismo, snobismo... Somos uns contidos/retraídos, e eles, aqueles gauleses, são do SUD, mediterrânicos puros, para quem o sentimento só importa se partilhado, ou melhor, muito e frequentemente partilhado...
O calor e a generosa afabilidade daquelas pessoas que tive o privilégio de conhecer, relembraram-me algumas coisas, por vezes esquecidas, como solidariedade, associativismo, genuíno interesse pelo outro. E isto, tem tanto mais valor, quanto o sentimos arredio do nosso quotidiano, na crescente endogeneização, 'repli sur-soi', vivência virtual, ausência de partilha, sendo esta o ponto alto da comunicação.
Não vim deslumbrado. Vim confortado. E hei-de voltar. E vou mandar cd's de fado ao Gérard, que tem 60 anos, andou a estudar português, que já fala muito bem, e sabe da nossa História, costumes e tradições , mais do que muitos de nós. Gosta de Amália, Cátia Guerreiro, Marisa, Camané. Conhece o mundo inteiro, mas é em Portugal que se sente em casa. Foi a Cabo Verde e conheceu uma família com um filho de 11 anos que sofria de uma doença que o deixaria, em pouco tempo, irremediavelmente surdo. Trouxe-o. Pagou-lhe a operação. Arranjou uma família de acolhimento para o receber durante meio ano. Depois de definitivamente curado, frequentou quatro meses uma Escola local. E foi-se embora, para a sua ilha, a falar francês, decerto melhor que o M. Soares! Podia ainda falar-vos da Françoise, que quer livros de autores portugueses, ou de meia centena de cidadãos que conheci, desde o director da Casa da Europa, ao mais anónimo de todos. Que querem ler Aquilino... que só tem três traduções, esgotadíssimas: "Le Roman de la Renarde" (que levei), La Voie Sinueuse", "Le Domaine"... e lêem Lídia Jorge, Mário Cláudio, Agustina, Lobo Antunes...

Jacou-Montpellier IV











Aqui, na 1ª Universidade de Medicina Europeia, leccionaram professores com o Rabelais e Nostradamus.

Interessante, esta 8ª cidade da Gáulia. Bem preservada, consorcia os estilos do passado, no presente, com um estilo futurista, sem deixar de lado uma inspiração neoclássica muito enraizada. A cidade moderna tem construções imponentes com nomes, curiosamente trazidos de culturas da Antiguidade: Corum, Polygone... e assim, saímos, de repente das estreitas e sombrias ruas medievais, com torres góticas, para entrarmos em flamejantes avenidas cheias de estátuas de Baco, da Europa (no dorso do Minotauro), de Orlando - o Furioso, do Discóbolo, da Vénus de Samotrácia, etc.












sábado, novembro 21, 2009

Jacou-Montpellier III

A cidade de Montpellier, cuja parte histórica tivemos o prazer de percorrer, durante todo o dia de 4ª feira, excelentemente guiados pelos Gérard, é a 8ª de França, em dimensão e importância. Centro universitário de enorme potencial, conta com 80 mil estudantes (por exemplo, a UA tem 12 mil). É um centro cosmopolita, com a vantagem de estar a 12 kms do mar Mediterrâneo e relativamente perto de outros pontos fulcrais da história de França, como Carcassonne, Nîmes, Arles, Camargue, Marselha... Uma cidade pluriracial, culturalmente muito activa.



A mais antiga Universidade de Medicina da Europa...

















sexta-feira, novembro 20, 2009

Jacou-Montpellier II - O Grupo


Moi-même, de dos, distrait...
au milieu de la place


Dr. José Mário,
'Maire' de Sernancelhe


Profª Eugénia Pereira, da UA

O pianista, André Cardoso,

que desceu de Paris para um abraço.

A Dra. Josette Sobral,
dos 'Comités de Bien Être'

O Dr. Cláudio Vitorino,
dos 'media'

O Dr. Carlos Silva,
o 'Homem' da Cultura






Jacou-Montpellier I

Ora cá estou, recém-chegado de um périplo de 2.600 kms, que me traz de Jacou-Montpellier, no belíssimo sul de França, onde, juntamente com a Professora Eugénia Pereira, da Universidade de Aveiro, fomos fazer duas comunicações subordinadas aos temas: "Voyage autour du Portugal Littéraire" e "Je vous présente AQUILINO...". Com calma, vos contarei mais tarde, as andarilhanças pela Gáulia...