terça-feira, agosto 31, 2010

Inclemências...




19H33, em Viseu.
Maravilhosa natureza!
Inesperada, exausta, desesperada, tem sempre a surpreendente competência e o condão de nos impor um respeito duradouro e renovado.
Como certas pessoas reais, ou até personagens ficcionais, muito redondas. Nunca sabemos tudo delas e nunca deixam de nos perturbar com uma atitude nova, inusitada, reveladora de uma faceta jamais entrevista e de um carácter em célere mutação...
Hoje, a natureza, despediu Agosto, esse mês consagrado a Augusto, com bátegas rijas de chuva, bailarinos ventos onde o pó e as folhas rodopiavam entontecidos e uma úmbrea cor celeste, tão pesada quanto o estanho que a coloria.
E nós, acoitados como laparotos na lura refunda, ouvimos o assobio ritmado ao sínfono batuque rufado da água dos prumos tombada, e refogados num caldário lento, surpresos, medimos tal tempo, e ligeiros na rotulagem, apodamo-lo de infiel.
Mais certo, porém, seria perceber-lhe, na volúvel inconstância, o desgosto toldado em ira, de um despertar assanhado e brusco, por garra acutilante do homem insensato e descurado do seu provir.
Este homem insciente, ou melhor, inconsciente, só rendido ao desrespeito e à ganância, porfiando na agressão desta madre milenarmente pródiga, tolerante e amaviosa.
E se a compararmos a qualquer matéria ou material, percebemos, sem ilusões, que a resistência chegou ao fim, e que a flexibilidade humilde de aceitação cristã da bofetada no rosto, se retorquiu violenta, em murro de resposta à agressão.
O homem, esse presumido pseudo-deus, que se crê vaamente imortal, desdenha do futuro onde não seja protagonista. E despreza, até, os filhos que gerou e serão, amanhã, os lazarentos herdeiros do caos que recriou.
São 19H51. A noite cai, o vento sopra e seca a chuva, mas rende-se às nuvens que ameaçam o amanhã...

sábado, agosto 28, 2010

23, as noites…


1.Tal olhar a tristeza me inquieta. Recuso precipitar-me para não dar ânimo à coacção.
2. Incessante, profano, te contemplo, pórtico de revoadas, tolhidas asas e sorvidos ares.
3. Repousar-te a fortuna sofrida num olhar. Ver de olhos em ti perdidos.
4. Porque deixas alar emoção, te aplacas na ausência? Dobre de ira? Sim, mas de profundis.
5. Assim estacados. Espelho ou aço, verosímil imagem da pedra.
6. Seremos estátuas, já que fomos renúncia e da carne somos pedra.
7. A fuga de movimento fixa a tristeza e decora-a para sempre.
8. E só alvitro, sem curar te ouvir: estranha dádiva, a do padecimento…
9. Uma verdade. Mas desconhecida, e assim, mágoa inacabada.
10. Fio perturbado, mal visível, quase em teia.
11. Tenebroso o elo, eixo ou via – a sombra.
12. Ousar girar-te em torno, escandir o gesto para lá do olhar.
13. Atracção, fuga de um centro suspensa na inércia.
14. Aqui pavor de ao ar virado conceder pretexto e ler
15. Palimpsesto (in)crível. Sobrado, também crasta de íris apalpebrada.
16. O mal não finda. Só o prazer é lesto e tu da luz ilusão.
17. Se deitar ao córrego sede e paixão, talvez lírios mas colham.
18. A memória… Tão mal estimada se calhar ao teixo.
19. Que mal haver perder-te assim em fio de luz.
20. De existência, lodo, leito, lençol ao seixo dado.
21. Antes cal nesse canteiro dê cor a tal tristeza.
22. Viver ou achar passo de vida num tanger.
23. Pois, por ora seja. A perdição uma ciência.
Viseu, 28/08/10.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Perverso

Perverso, etimologicamente, pode querer significar, pela via ou lado errado.
Há uma relação perversa entre o encerramento de escolas, em Portugal, os factos incredíveis avocados para o efeito e a contínua desertificação do interior do país.
Segundo dados publicados na revista "Visão", se entre 1999 e 2008 se eliminaram 3721 escolas, só em 2010 encerram 701. Um número record. Destas, 383 situam-se no Norte. E nos distritos de Bragança, Vila Real e Guarda.
Como um mal não vem só, alguns distritos são também penalizados com o encerramento de centros de saúde, urgências hospitalares e postos de correio.
Imagine-se o leitor a viver num destes distritos. No seu agregado familiar tem 4 pessoas: o casal e dois filhos menores. Os serviços essenciais vão-lhe sendo retirados. O seu centro de saúde fechou. A escola onde os seus filhos estudavam desapareceu. Que o mantém nesta localidade? Um amor profundo à terra, às raízes? Ademais, o casal em causa paga os seus impostos como um análogo casal residente em Lisboa, em Aveiro, no Porto. Será legítimo pensar que o estão a mandar para fora do seu torrão natal? Penso que sim. E penso mais, que os pressupostos da sociabilização das crianças, a falaciosa premissa do insucesso escolar estar aliado ao escasso nº de alunos, a promessa da criação de mais valências hospitalares em unidades distritais, etc., servem apenas para ocultar a face dura, cruel, mesquinha e terrífica desta realidade: a falta de dinheiro, a penalização habitual dos mais desfavorecidos, o emagrecimento do sector público sem olhar às vítimas daí advenientes (e sem, nunca, se ver exemplo de cima); ou seja, a visão redutora, imobilista e atávica do problema, centrada no eixo meramente economicista.
Parece que, depois, os governantes se queixam do envelhecimento gradual e galopante do país. Hoje, os jovens, além da precariedade da sua situação profissional, não têm, não podem, não querem ter filhos. Até e porque o mundo para o qual eles nascem lhes é profundamente adverso. Não-afectivo. Por outro lado, quando o essencial lhes é negado, como escolas e serviços médicos, porquê tê-los ou sequer, manterem-se numa zona interior que foi votada ao abandono e ao desprezo?
As migrações lusitanas são ancestrais; as dos "ratinhos" paradigmáticas; as de hoje, com a reiterada "fuga" para os centros urbanos é um êxodo, que de tão maciço, se tornou numa calamitosa praga, deixando às urtigas, devastação pelo fogo e misérrimas condições de vida, uma parte do continente português, reduto geriártrico de cidadãos à espera do fim. Porém, tal desrazoável fenómeno não tende a estancar-se e a cicatrizar. Cada vez sangra mais, deixando exangue grande parte do país real.
Abandonado. Em saldo. Talvez os espanhóis o queiram...

terça-feira, agosto 24, 2010

Os números das Novas Oportunidades

Mas afinal o que é que isto prova?


Segundo o DN de hoje, e baseado em dados da Pordata, em 2009, 33% dos alunos do Ensino Secundário em Portugal eram discentesos do ensino recorrente inseridos no programa das Novas Oportunidades, que visava certificar, até final deste ano, 1 milhão de activos (o que não foi conseguido). Ou seja, em números redondos, hoje no Ensino Secundário, dos 498.320 alunos que o frequentam, 169.190 estão inseridos neste programa.
No Ensino Básico o número é menor, mas não deixa de ser significativo: 206.201 em 1.283.193.
A primeira grande constatação é de que houve durante décadas uma taxa de abandono e insucesso escolar altamente significativa, que reflecte bem a ausência de políticas credíveis dos sucessivos governos nesta área. E só a título paradigmático de exemplo, quero recordar que em Portugal, depois do 25 de Abril, em 36 anos, tivemos 27 ministros da tutela!
Daqui decorre a existência de uma imensa margem da população activa portuguesa altamente desqualificada em termos académicos. Que andou, então a Escola a fazer durante estas décadas? Pelos vistos e pelos resultados apontados há responsabilidades e análises a pedir. Aos professores? Só muito parcialmente. Os professores e as direcções das Escolas cumprem, maioritariamente com zelo e brio, as orientações dimanadas do ME. O ME é que, até e pelo número de responsáveis que ocuparam a pasta, não tem tido qualquer política educativa. Quanto mais uma política válida, coerente e consistente no âmbito da sua responsabilidade.
As Novas Oportunidades, aceleradamente postas em prática, com fragilidades estruturais imensas, foram o “remendo” encontrado para contrariar números e estatísticas que nos colocam muito mal no ranking europeu.
E tal como um oásis mirífico no deserto ardente, a ele ocorreram, louvavelmente, às centenas de milhares, todos aqueles que, por um motivo ou outro, não conseguiram prosseguir os seus estudos. E para quê? Para ascenderem profissionalmente em função da habilitação adquirida. Para produzirem mais e terem melhores salários.
A grande questão, porém, coloca-se: Será que o Ensino proporcionado pelas Novas Oportunidades é, de facto, algo de formativo, exigente, prático, uma ferramenta valiosa para o mundo de trabalho? Parece que não, segundo dados apurados em inquéritos feitos: os alunos certificados, na sua imensa maioria, não encontraram quaisquer compensações a nível profissional e remuneratório.
Porém, se a conjectura económica actual é adversa, com seus malignos reflexos no mundo laboral, um trabalhador mais qualificado, na teoria, deveria ser um trabalhador mais produtivo. E se mais produtivo, deveria ser mais estimulado. A não se verificar tal constatação, o legítimo desiderato de todos quantos acorreram ao ensino recorrente, apenas nas estatísticas foi proficiente e profícuo.
E a ser assim, estamos perante o quê? Um falhanço?
Uma política que apenas a médio/longo prazo vai ter repercussões assinaláveis estimáveis?
Um truque de ilusionismo, ou um grande logro?

domingo, agosto 22, 2010

"AQUILINO" - Revª Literária da Câm. de Sernancelhe


A Revista "aquilino", nº 2 está no prelo. Depois de algumas incertezas por causa da data de apresentação, a autarquia sernancelhense decidiu respeitar eventos marcados, a posteriori, por outras entidades vizinhas, adiando de 13 de Setembro para 29 de Outubro e integrando-a nas comemorações da Festa da Castanha. Deixo-vos capa e contracapa... quanto ao conteúdo, acrescento apenas, que traz ensaios da maioria dos académicos e estudiosos que sobre a matéria têm voz. Voltaremos a este assunto em tempo oportuno.

sábado, agosto 21, 2010

O medo das afobias / ou o medo de não ter medo.

Dantes, os montes, os vales, os rios e as florestas eram imensos.
Eram muitos os peixes, as aves, os animais.
O homem, animal mais desenvolto, deixou de fazer do mundo, em geral, o seu habitat. E de nómada, com as estrelas nos olhos e o infinito nos passos, tornou-se sedentário.
Juntou-se a outros homens, para exorcisar os medos e dar razão e origem à parábola dos vimes. Transformou a sua singularidade em povo. Procriou e cresceu. Fixou-se em castros, citânias e passou a aldeias, acocoradas e desconfiadas no cimo ora ermo dos montes.
Cresceram as aldeias e desceram das colinas às planícies, feitas vilas, feitas burgos. Cedo, porque então o homem, demograficamente era um modelar coelho, surgiram as cidades.
Os montes encolheram, os vales tornaram-se escusos semideiros, os rios, ora porque enfastiados se apressassem para a foz, ora porque o homem os obrasse e lhes secasse nascente e leito, minguaram suas águas, as florestas foram recuando e tornaram-se bosques minúsculos de árvores pueris, que os velhos robles, frondosos, encopados, imponentes, poderosos, não escaparam à rapace cobiça humana, e em breve, se tornaram tectos onde assentaram as tégulas, ou soalhos ripados onde poisavam os pés.
Os peixes migraram para o mar, suicidando-se na imensidão e no sal.
As aves, engolidos os corutos, roubadas as frondes, de seguida, foram enxotadas dos beirais.
Os animais, com suas moradas encolhidas, com a sanha humana e predadora crescendo todos os dias, perdidos seus territórios, extintas suas reservas, decidiram finar-se de saudade, tédio, angústia e dor.
O homem, em cujas matrizes primiciais, existia fauna e flora, inventou gaiolas, aquários, jaulas e domesticou a criação. Primeiro para dela tirar deleitável proveito, como foi fazendo com os da sua própria espécie, depois, para lhes fazer companhia, ao prever em si a perda gradual de atributos, tais como: generosidade, bondade, doacção, fidelidade, altruísmo.
Amanhou pedaços de terra, que apodou de eiras, hortas e lameiras. Desenhou canteiros e criou jardins. Se os primeiros ajudavam à sobrevivência, os segundos, davam-lhes a ilusão edénica, desbaratada e perdida.
As gerações sucederam-se. Com elas, a mais feroz destruição da Natureza. Os novos não a respeitam, porque nem sequer a conhecem. E então, nos seus covis calafetados de cimento e betão, bestializado, o homem, tomou o lugar de todas as bestas outrora existentes. E sem clemência nem piedade, extreminou-os.
Hoje, o homem regredido, recanibalizou-se. Simbolicamente, envilece-se, malevoliza-se, violenta-se, amargura-se e elimina-se, em cada dia que passa.
Rouba. Agride. Mata. E até o faz aos que mais próximos da mão contundente lhe ficam. E então, impado da fútil vacuidade de tão absurdo quanto fátuo poder, começou a ensinar à descendência, numa fera pedagogia, a brutalizar seu semelhante, a desrespeitar o outro, a ser solidário apenas consigo mesmo.
Finalmente, depois de uma dúzia de conscientes atropelos num só dia de labuta, chega ao lar desiludido, desenganado, frustrado. Tomado de inveja pelo rutilante carro novo do vizinho do 1º Esq., mal entra dá um tabefe no filho que, por azar, lhe pergunta quanto são 9X3 ou onde desagua o Tejo; vocifera com a velha e surda mãe, que olha, apática, a tv em altos berros; arrota aos caracóis e à cerveja da merenda e chega à cozinha. Porque o refogado está cinco minutos atrasado, afaga a boca da mulher com a costa da mão, cortando-lhe, sem querer, claro, o lábio inferior, enquanto tira uma "loira" do frigo, assobiando uma modinha brasileira.
À mesa, de repente, a seguir ao caldo, lembra-se e diz aos filhos:
--"Atenção, canalha! Muito cuidadinho com os cães que são animais violentos, perigosíssimos e poluidores da Natureza!"
(Dedicado à M. Carvalhal, pessoa superior, que aprendeu a gostar de cães)

quarta-feira, agosto 18, 2010

Ontem, no CHV

Fui com as minhas amiguinhas, Carolina & Carolina (juntas têm 9 anos), ao CHV, ver a Ibiza.
Olá, relincha a Ibiza a sair da boxe, hoje tenho visitas!
Picadeiro com ela, e a despeito do sol e do pó, trata de a desenrolar, permitindo-lhe um bocadinho de exercício e deitar fora "as alegrias"
Ao fim, com um ar satisfeito, pergunta: Gostaram da minha exibição?
De seguida, um refrescante banhinho...
Secar (com a raspadeira) e tratar das crinas e cauda (os cabos), com o seu pente de osso.
Cansado e suado (eu), satisfeita ( a Ibiza).
(fotografias dos pais das Carolinas, VL e JM)















segunda-feira, agosto 16, 2010

Este link...

...que recebi, por cortesia do meu bom amigo POBC, desmistifica o preconceito que temos, por vezes infundado, sobre o modo de Espanha ver Portugal.
É longo de 56', mas é, também, de uma beleza estimulante.
Afinal, de Espanha, também sopram bons ventos, bons casamentos e óptimas perspectivas do luso rectângulo!


http://www.rtve.es/alacarta/la2/ultimos/index.html#659940

Fresquinha...

Não resisto a transcrever este "pensamento" recém recebido via mail (Obg P.).
Tirando o pressuposto machocrático que lhe sub (e sobre)jaz, é uma pérola de argumentação...


SABEDORIA ORIENTAL

UMA ALUNA PERGUNTOU AO MESTRE DALAI LAMA:
__ Mestre, não entendo... se um homem tem sexo com várias mulheres, é visto como um garanhão. Se uma mulher o faz com vários homens, é vista como uma vadia. Não é injusto?

O MESTRE, RESPONDEU:
__ Minha filha, procura pensar nisto desta forma: se uma chave abre várias fechaduras, ela é uma chave mestra, uma coisa boa de se ter. Já uma fechadura que é aberta por várias chaves diferentes... bem, essa é mesmo uma péssima coisa para alguém ter.

Viseu - Onda de violência

Na madrugada de sábado para domingo, uma violenta onda de destruição assolou a Quinta do Bosque.
Provavelmente pela madrugada, com paralelos extraídos dos passeios, vários veículos estacionados foram alvo de um inusitado ataque.
Segundo uma das vítimas, terão sido pelo menos 13 as participações que deram entrada na PSP.
O(s) autor(es), à pedrada, partiram vidros e danificaram portas e painéis laterais. Os veículos em causa, ignoramos se houve similares ocorrências noutras partes da cidade, encontravam-se no seu normal estacionamento em torno do Hotel Montebelo, para montante e jusante. Um deles, que tivemos oportunidade de observar, um Discovery, tinha o vidro traseiro completamente estilhaçado, idem o vidro lateral esquerdo, o da frente rachado e o painel direito apedrejado em vários sítios. No solo, estavam os paralelos utilizados, arrancados do passeio.
Conjecturalmente, esta sanha, não terá por móbil o furto, mas a vandalização por diversão.
Não é crível que um bando viesse de fora fazer tal serviço, que nenhuma mais-valia material lhe concederia. A serem jovens moradores na periferia do local, àquela hora da noite, poderiam regressar de discotecas ou bares. Assunto que a PSP/PJ apurará.
Facto assente, é que tal atitude gerou uma vaga de receio num dos locais mais sossegados da cidade de Viseu, que a não ser imediatamente investigada com resultados positivos, exemplares e concretos, corre o risco de se tornar numa onda galopante de semelhantes ou piores acontecimentos.
A serem jovens, é ainda de crer que muitas instituições estão a colapsar. Começando pela Família, que não educa, pela Escola, que não ensina e pela Justiça que não é respeitada.
A PSP não pode estar em toda a parte. E em boa verdade, com frequência, vemos carros patrulha, alguns a cair de velhos, patrulharem esta zona. A PSP, com os meios humanos e materiais cada vez mais reduzidos e/ou obsoletos, tem dificuldades acrescidas em enfrentar uma escalada de acções deste género. Quanto à Polícia Municipal, por ignorância dos seus conteúdos funcionais, não nos pronunciamos.
Pontuais focos de violência diversificada, nesta época, surgem por todo o distrito. Tivemos conhecimento da ocorrência, numa vila próxima, que nesta altura tem imensos emigrantes de férias, de um desacato dentro de um bar que dista menos de 100 metros do posto local da GNR, fez sábado oito dias. Chamados a intervir, em número muito inferior aos jovens emigrantes, na sua maioria de bairros periféricos de Paris (les banlieus foutues), os agentes foram violentamente agredidos. O assunto resolveu-se este sábado, com uma acção vigorosa da Brigada de Intervenção, que apareceu de surpresa e em igualdade numérica.
Estas desordens são sinal dos tempos. Esta violência social, é globalizada. Ainda mal a conhecemos, mas ela chega, na proporção directa do estado a que o país chegou, com um número de desempregados nunca visto, com a Família desagregada, e na sua precariedade, em guerra, com uma Escola que foi diabolizada e desautorizada pela tutela, também ela cenário das mais diversas violências, com uma Justiça que transmite uma situação generalizada de impunidade.
Mal está um país quando os cidadãos apelam ao que sempre menos desejaram, um Estado mais policial...
E se um dia, um pacato cidadão, impotente e esgotado, sair em defesa de sua propriedade? Será agredido, talvez abatido?
Não entoamos o hino do alarmismo, mas o certo é que, na Quinta do Bosque, a partir de hoje reina a inquietação. E quando o medo se instala e o morador se vê privado da sua liberdade de sair à noite, para um passeio pedestre com a família, se vê invadido do receio de estacionar o seu veículo à porta de casa e demais trivialidades deste tipo, podemos recear que o cidadão comece a agir em conformidade com os factos... e daí à reciprocidade ou legítima defesa, a distância é escassa. E alguém, decerto, poderá, um dia, sair aleijado deste thriller made in USA!
Porém, é premente não esquecer que tudo isto é um efeito. E que apenas o constatamos. Com isenção. Mas não deixamos de apontar o dedo à causa: uma sociedade em crise, cada vez menos afectiva, que só pode e sabe ser geradora, não dos afectos que não tem, mas das violências, pressões, marginalizações, carências e crescentes injustiças sociais e desigualdades a que está sujeita, em todos os seus núcleos: familiares, educativos, profissionais.
Onde vamos chegar, nesta espiral de angústia?
Mãos à obra, senhores que têm o poder e o dever! Mostrem quanto valem!

sexta-feira, agosto 13, 2010

Re post

Andei a coscuvilhar os dias idos. E deparei com este post, parcialmente antagónico do anterior, mas com muito de comum. Aqui fica, de novo.
Domingo, Fevereiro 28, 2010

É vento, tal lamento...
Hoje, sábado, 27 de Fevereiro, às 16h46, estou deitado a ler. Lá fora, o vento cresce e o seu sopro é tão violento que me quêdo a escutá-lo.
A faia da entrada, como uma acrobata romena, ousa ângulos nunca vistos, que do coruto ao solo, correm desvairados 180º.
Ouço que no Chile, uma tempestade, um furacão ou qualquer análoga ira da natureza, deixou a devastação onde antes havia a serena calma de um sábado de inverno.
A natureza, definitivamente zangada, perdeu a razoável complacência, e de mãe afável e pródiga, tornou-se madrasta má, perante a destruição sucessiva dos seus eco-sistemas.
Fui há pouco ao Centro Hípico. Os cavalos, inquietos, estremeciam nas boxes um pânico que lhes cinzelava os olhos. As portadas superiores não se seguravam e batiam na parede e no caixilho com um fragor que estoirava os nervos tensos dos animais.
À vinda, um pinheiro enorme, arrancado do solo onde as raízes se embriagaram de água, saltou para a estrada com gemido único e um estrépito de ramalhada.
É uma gaita de foles doida, este vento, num auge de fantástica sinfonia...
No ar não há pássaros. Onde se esconderão ou abrigarão para não serem levados como aquela placa de esferovite, a esvoaçar branca, indecisa, no bosque?
Os cães, soturnos, numa bisonhice aconchegada a mim, acomodam-se com as patas ao correr do focinho seco, de olhos fechados, por vezes entreabertos num atónito ápice, por espasmo do corpo assustado.
É gigantesca, esta ira. Todas as culminâncias têm, em si, a desmesura do formidável, geradora de um esgaçar dos sentidos, represos e soltos na turvação.
A lâmpada do candeeiro é como uma vela de outrora, tremeluzindo numa dança airada.
Os homens, que mandam no meu país, uivam conjuras bestiais como a intempérie rosna a raiva.
Dizia o poeta: " É no ar que tudo ondeia...", e de facto, são vagas fluidas de um tamanho invisível, aquelas que se abatem sobre um povo, ainda há pouco apaziguado em sua melancólica e quase alheia insciência.
A modos que um despertar alarmado ao dobre dolente de finados... estremunhado e dúbio, incerto, hesitando entre a sugestão e o real, o alarme e o susto, o soluço e a cegueira, a acção.

Câmara atenta!


1. Afinal não decorreu meio mês até que a Câmara de Viseu mandasse arranjar o que os Galegos destruíram, no parque de estacionamento frente ao Hotel Montebelo, onde os mecânicos da Volta a Portugal em bicicleta acamparam e devastaram... Ontem, já estavam os buracos tapados, novos tapetes de relva e os lancis substituídos. Parabéns pela rapidez e eficácia. Porém, estamos certos que esta cena tende a repetir-se, ano após ano, porque o vandalismo é crescente e a ausência de responsabilização pelos actos cometidos é inexistente.

2. O país arde. Suas Excelências, os senhores presidente da república e 1º-ministro interromperam as suas férias para mostrarem sua preocupação e solidariedade com o povo que vota e vê, dia após dia, angustiado, tudo arder à sua volta: coirelas, pinhais, arrecadações, estábulos, aviários, animais e casas... Uma vida inteira de labuta! Quando falta a luz, porque os fios e postes se volatilizam, faltam a água e as comunicações. Então, mãos enclavinhadas de desespero, com as enxadas, lutam com a terra e com a raiva que a dor carreia. Os Bombeiros, exaustos, morrem nas estradas, à ida e à vinda das operações. Uns senhores da protecção civil (para que serve? de que nos protege?) em "jeeps" magníficos, de fazer inveja a muito do equipamento dos bombeiros, vidros fechados, ar condicionado ligado, coletes vistosos, piróris a arredar incautos, mostram-se tão eficazes como o Tiago Monteiro, no Autódromo de Portimão. Os militares, dos soldados às alta patentes não pertencem a esta devastadora guerra. Eles, que têm técnicos competentes e máquinas poderosas... A GNR, essa, acode como pode. E é frequente vê-la ao lado do povo e dos soldados das chamas. Honra lhe seja feita. Os pirómanos, se e quando apanhados, vão para casa congeminar a próxima diversão. E ainda há, quem compre ao desbarato, a madeira ardida...

3. Pode ser que agora, tendo as altas figuras da Nação interrompido as suas férias, o fogo tenha isso em consideração e perante tal sacrifício, atenue seu afã destruidor.~
4. O mundo está a mudar, e essa mudança, de tão alucinantemente vertiginosa (passe a tautologia) chama-se mutabilidade -- ou vingança face às vilezas continuadamente perpretadas pelo homem (exactamente, com minúsculas!). E o maior drama é que a estrutura mental humana, acomodada, não acompanha essa "bestial" mutação. Assim, neste "match" titânico, é fácil perceber quem vai sair, a brevíssimo trecho, completamente derrotado e são previsíveis as consequências, já não reversíveis, para toda a humanidade, presente e futura. E isto não é visão do Apocalipse, mas lucidez perante os factos...
5. E já agora, que vai longa a parlenda, hoje é 6ª feira, dia 13. Que mais irá acontecer?

domingo, agosto 08, 2010

o sábado

carvões de week-end

retido em casa com fera otite, causa de querer ser peixe.





sábado, agosto 07, 2010

"O Cego de Sevilha", de Robert Wilson...

... 2ª ed., Booket, Pub. Dom Quixote, 2007, trad. de Ana Cardoso Pires e Pedro Pia, é um excelente thriller para levar de férias. Ademais, com um preço inferior a 10 euros, oferece-lhe 634 páginas de belíssima leitura.
Registo diário de um inspector-chefe, em Sevilha, entrecruza-se com uma série de crimes inabituais e com um fio condutor que vai ligando as vítimas ao investigador. Registo bifónico, alternando com os diários do pai do polícia, um célebre pintor espanhol, aborda-nos realidades densas da Guerra Civil Espanhola, da Frente Russa e da vida marginal e sensual em Tânger. Deixo um extracto que fala dos portugueses:
"_ Todos sofremos _ disse o Dr. Fernando _ Os espanhóis, e não apenas os sevilhanos, ultrapassam os problemas através de ... la fiesta. Falamos, cantamos, dançamos, bebemos, rimos e fazemos a festa noite após noite. É a nossa maneira de lidar com a dor. Os nossos vizinhos, os portugueses, são muito diferentes.
_ O seu estado natural é estarem deprimidos _ comentou Falcón _ Cederam à condição humana.
_ Não acho. São melancólicos por natureza, como os nossos galegos. Afinal de contas têm de se confrontar quotidianamente com o Atlântico. Mas são muito sensuais, também. É um país que cometeria suicídio se acabassem com o almoço. Adoram comer e beber e gozam a beleza das coisas. " (p.261).
Boa leitura!

sexta-feira, agosto 06, 2010

Expressões...

guarda-lua?
inquietude (carvão)


quinta-feira, agosto 05, 2010

Algures, na beira litoral...

... além, dei-te o maço, deste-me um cigarro, dei-te lume, deitámo-nos à beira mar e eu deitei-me a afogar.
(Podia ser assim, quando dar e deitar se dão mãos, para confundir o espírito e quebrar o corpo...)

quarta-feira, agosto 04, 2010

Viva la Vuelta!

Los nuestros hermanos gallegos, como vos escrevi ontem, atacaram a corta-mato o estacionamento frente ao Montebelo. Resultado: hoje atascaram-se e nem para trás nem para diante! Nesta 1ª imagem, já cá fora, numa manobra de condutor "made in Xacobeo", parados na rotunda, borrificando-se nos pobres tugas que queriam ir comer o caldito...
Claro que a solidariedade lusíada está sempre presente. E lá foram os BM "gruá-los"!
Aqui, miram a "mierda" feita!
A caixa da rega por aspersão... "era"!
As regueiras mostram-nos que afinal se trata de BTT!
Os lancis partidos comprovam o empenhamento destruidor!
Um gaulês de outra equipa veio ver-me tirar fotografias.
Perguntei-lhe: "Vous êtes toujours si emmerdants et vandales?"
Admirado, talvez por falar a língua dele, respondeu: "Pas bien fait! Mais l'organisation paye tout!"
"On espère! Mais dites-moi, si un portugais faisait autant chez vous, quelle serait votre réaction?", retorqui-lhe.
Pensou um minuto e talvez para não responder: "On le pendrait par les couilles!", sorriu-me, fininho, virou costas e deixou pendente e diplomata a resposta no ar!
Aqui, estamos seguros, "la Mairie", amanhã, ou daqui a um mês, resolve a questão e manda a conta "aux organisateurs"!
"GARE AUX VANDALES!"








terça-feira, agosto 03, 2010

Pinto Monteiro ao DN de hoje:





"TENHO OS PODERES DA RAINHA DE INGLATERRA"
Assunto1
Nós dizemos:
A imagem é muito bonita, de fino gosto e de esbelto recorte.
Desde o 5 de Outubro de 1910 que foi instaurada a República, em breve centenária. A Senhora Dona Rainha de Inglaterra, de seu suave nome Isabel, não tem poderes nenhuns, ao que saibamos. É uma espécie de figura decorativa da GB, turisticamente apreciável, como o Big Ben, o whisky de malte, a pura lã virgem escocesa, ou os Beatles de Liverpool. Ainda íamos falar da Rolls Royce, mas foi comprada pelos alemães,ou da Jaguar, mas foi comprada pelos indianos... (Que grande vingança!)
Mas se a Rainha de Inglaterra é uma figura meramente decorativa, porque é que o PGR se compara a ela? E para que serve, se não tem poderes? (O que aliás se vai vendo, na praxis diária, sendo pois quase lapalissiana, a asserção).
Não temos já o Eusébio?
O Eça escreveu: "Portugal não é um país, é um sítio mal frequentado!".
Será de crer?
Que Deus nos ajude!
Assunto 2:
Não há praga daninha que não me bata ao cravelho. Deste feita é a Volta à Lusitânia em Bicicleta... E então, um camião TIR dos nossos queridos vizinhos da Galicia (que eu muito aprecio), cujos tripulantes devem ser daltónicos e não perceberam o verde da relva, julgando-o cinza do paralelo ou negro do betume, entraram a corta-mato no parque que a câmara lhes emprestou, frente a minha casa; ou então, em vez de "cicloturistas", talvez sejam praticantes de 4X4. Uma coisa, no meio da dúvida, suscita outra dúvida, perante a certeza dos factos: Será que os Vândalos eram oriundos da Galiza? E que me perdoem os "bons galegos", por tomar a parte pelo todo. E o querido leitor tem razão, não se devem comparar mecânicos de bykes com um povo de tanta cultura e tradição. Como não se deve comparar a Rainha de Inglaterra ao PGR. É tudo uma questão de elementar bom senso, e acrescentaria: pejo e decoro!
Assunto 3:
O que tem a ver o assunto 1 com o 2? Nada, que nós saibamos! Ou então, aqui e ali, nos pequenos pormenores ou nas questões de mor vulto, se vai vendo o Estado da nação. Ou se preferirem o estado da Nação!

segunda-feira, agosto 02, 2010

Nº Sra. da Assunção da Tabosa (terra dos fálgaros* e do "Valeroso Milagre"**)

A Igreja da Nª Sra. da Assunção faz corpo com o último Convento Cisterciense feminino de Portugal, na Tabosa. Aqui vos deixo imagem da padroeira em seu nicho de cantaria, lavrada pelo mesmo canteiro que rasgou no granito o lava-mãos (infra), sito ao corredor da sacristia.
* Os fálgaros são um bolo típico e exlusivo da Tabosa, tipo "bolo de azeite" recheado com queijo fresco, imortalizado por Aquilino in "Terras do Demo".
**"Valeroso Milagre" é conto inserido in "Estrada de Santiago", ed. Bertrand, cuja acção decorre, exclusivamente na Igreja e Convento referidos, ao tempo da fuga dos franceses (3ª Invasão). Aproveite e leia nas férias.


domingo, agosto 01, 2010

O teixo

1. não na rua.
à altura da copa verde e afilada do teixo.

2. nunca na rua.
vejo passá-los
frenéticos e arrasados.
calmos, os pássaros
filtram a luz da manhã
e cantam-me a sua ausência
dos sonâmbulos.

3. jamais na rua.
outra vez
a copa do teixo
é um patamar sustentável.
faço dele meta e detença.
não há rua.

Ontem, visita dos sobrinhos...

... Ana e Nuno, mais o sobrinho-neto, Kiko (um peixe como o tio-avô!).



Argos & Joyce....

cansados de jogar com as bolas do Kiko (que ficaram em fanicos).