domingo, novembro 30, 2008

Fernando Echevarría, Epifanias

A CHUVA INCREMENTA O VENTO.
E de ambos surde um lugar
que ilumina o pensamento
onde chove. E venta. Mas
recolhidos ao contexto
em que nos devem ficar.
Ocultos aí, sem tempo,
qualquer tempo os poderá
trazer a um mundo lento
onde chover e ventar
tomam luz. E, até, o jeito
de se instaurarem. De a paz
ficar a vê-los sem tempo.
Mas com todo o tempo atrás.
"OBRA INACABADA"
Ed. Afrontamento, 2006.

O caminho


(...)

"Sem veludo nos pés é como vive
Quem quer deixar os passos desenhados."


M. Torga, Diário IV.

sábado, novembro 29, 2008

fachada em granito casa beiroa


"Disse-lhe: -- Ninguém sabe nada de ninguém. Todos nos mentimos uns aos outros. Só os bichos e os mortos são verdadeiros."


Miguel Torga, Diário XVI

mulher sentada


in concílio, hábeis, as palavras em boca de cónego


serpes


À memória do Pe. Sílvio Pinto do Amaral

in Cadernos de Literatura, do Centro de Litª Portª da Univ. de Coimbra, INIC, nº 25, de 1986, foram publicados os meus dois primeiros textos, pela mão cuidosa da Professora Andrée Crabbé Rocha, mulher do Dr. Adolfo Rocha, Miguel Torga.
Deixo este:

Efeméride

É tão triste recordar
Recorrer ao que de ti ficou
Em mim guardado
Para hoje lembrar um gesto
Amanhã uma palavra
Mais logo a imagem
Refeita dentro de mim
Inacabada
Acrescentada de detalhes
Que são e não são
Pertença de ti
E que te confiro na ausência
Da memória compensada
Pela imaginação do meu bem querer.

Não te vejo as rugas
Nem os cabelos brancos
Nem a dor em teus olhos escondida
Ao pé do medo.
Não vejo o mal que em ti crescia
Não ouço a tua respiração
Arquejante no fim
Não sinto a força da tua força em mim
No último aperto das mãos
Em que eu era vida
E tu já morte.

De ti lembro o teu sorriso tímido
As tuas conversas longas
O teu saber
Os passeios que demos
As histórias que contámos
Os silêncios que não feriam
Porque eram feitos
Da saciedade bem gozada
De quem diz tudo e nada guarda para dizer.

Lembro enfim a tua face serenada pela morte
E sereno fico ao crer-te em paz
Distante dos vivos que magoam quase tanto
Como a dor final que te arrancou à vida.

Vila Nova de Paiva, 12 de Julho de 1986.
Até que ponto é o artista um anormal, não sei nem quero saber. A anormalidade nunca me meteu medo, se é criadora. Agora até que ponto o homem normal combate o artista e o quer destruir, já me interessa. A normalidade causou-me sempre um grande pavor, exactamente porque é destruidora.
Miguel Torga, Diário IV.

sexta-feira, novembro 28, 2008

walk away


rosé


pompeia


'transgredir é sair da fila'

é?!

ómega

a des contr' acção

flou


quinta-feira, novembro 27, 2008

249.

revoas e flutuas
no sopro cálido da manhã
nem cerras o olhar que o ar agride

(...)

365.

felicito-me muito
por ter chegado a este fim
breve é a vida para intentadas proezas

Parabéns!

A Kiki Bretã está feliz! Acaba de ser contratada para assistente...
Felicidades, miúda!
'Torço' por ti!!!
Uma fotografia do Porto que a Kiki enviou.


quarta-feira, novembro 26, 2008

274

é mais fácil amar o que temos
do que aquilo que não temos
no verso que faço amo o reverso que não alcanço


pn, textos do capricórnio, ed. herança cultural, outº de 2001

sábado, novembro 22, 2008

Porque será que vai tanta gente a Sernancelhe?

Quatro amigos decidem passar o dia em Sernancelhe.
Fui o primeiro a chegar. Não admira, marquei à porta de casa... Depois veio o Maurício...


...entretanto, chegou o Silvério...

Estas traseiras!
... e finalmente, veio o Paulo Amílcar...
A melhor forma de ver um Porsche: no retrovisor de outro Porsche.
Na Sarzeda, em Sernancelhe, (sentido Penedono, 2ª rotunda à esquerda) obrigatório amesendar na CASA DO AVÔ, do Chefe Pedro Loureiro (tf: 254594016; casadoavo@sapo.pt)
Ah, o forno de lenha!
Depois de uma "tábua" de entradas "muito múltipla", um polvo tenro com couves e tortulhos, num estupendo matrimónio da terra e do mar...
A simpatiquérrima Filipa, a servir, de escanção, um rútilo Borba .
... e continuou-se com um naco de vitela, sápido, tenro, a ressumar do alho e sal um sabor campestre, com aquelas tão belas quão piquenas batatinhas da horta ao lado ...
... e seguiu-se-lhe um abade de Priscos, a adoçar o palato, ainda, sobressaltado...
Les copaîns, retemperados, ou o smoke gang: da esq. para a dta. o Silvério, o Maurício, o Paulo Amílcar e a São.
Eu? A tirar o 'bonecro', claro!
Cavalaria transalpina...
... e germânica.
Voluptuosas e esbeltas. Latinas!
Depois de uma competente e profícua visita à Biblioteca Municipal, um café na zona histórica e o feliz encontro com o Senhor Pe. Cândido, que foi sapiente cicerone da Igreja Matriz, românica, do século XII. Só por si justifica uma ida...!
E sem palavras para tanta beleza, desde o românico aos frescos góticos, chegando ao barroco... uma jubilante (re) descoberta!



E você, de que está à espera para ir a Sernancelhe?


Nota Final e a justificar o título: várias excursões com algumas centenas de visitantes percorriam as ruas locais, após terem calcorreado o belíssimo circuito pedestre de 13 km, por entre soutos majestosos, da ROTA DOS CASTANHEIROS.























quinta-feira, novembro 20, 2008


quarta-feira, novembro 19, 2008

E já agora...

... para dar uso a este "mono" às moscas, não há aí parceira para uma partidinha?
(Declinadas estão desde já candidaturas de parceiros!)
Quem perder a pull paga um rodízio real!
Estou a precisar de umas carniças, sápidas, suculentas e sanguinolentas (não propriamente tártaro, mas quase), do tipo cupim, picanha c/ alho, maminha, alcatra et all, para tonificar... com uma garrafinha de litro e meio de Vitalis (não é Gomez?).
(desculpa lá este barbarismo, VM, tu que és vegetariano convicto, mas alguém tem que as comer!)

As mantas...

Porque será que começo a ter mantas espalhadas pela casa fora? A terra é fria. A casa tem aquecimento, mas uma mantinha nos joelhos...
A álgida velhice!!!

M. Barret (para a Tchi)

Barrett's da década de 70.
O da esquerda representa um bizarro nu interseccionado por uma bicicleta (ou vice-versa), o da direita, moliceiros da minha terra.

Sacro

Das várias peças de arte sacra que durante anos coleccionei, e porque a casa se começava a assemelhar a uma sacristia de convento abandonado, preservei um lote de mais ou menos duas dezenas, dentre as quais este Cristo na cruz, (em íntegro estado), por algumas peculiaridades às quais tomei gosto: o exótico tipo oriental; a cosmética tardia pungentemente sangrenta (espécie de 'palimpsesto' kitsch ), o corte popular e a expressa dor.

terça-feira, novembro 18, 2008

Kalpa

(clique)

Pe. António Vieira

ESTAIS CEGA...! ESTAIS CEGA...! ESTAIS CEGA...!
Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo?
Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.
Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da R eli gião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade?
Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.
Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos?
Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.
Citado pelo Professor Carlos Ceia, num excelente artigo que pode ser lido no www.educare.pt e me foi enviado pelo Victor Monteiro.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Sempre fiel...

O Argos, à minha frente, paciente, a sonhar, talvez, com melhor dono...

montanha russa ou gros cul de demoiselle soviétique


domingo, novembro 16, 2008

Porque é que tantos políticos, hoje, mentem tanto?


1º Até devem ser pessoas de bem.
Gente com família, filhos a crescer ou crescidos, valores e crenças.
Porém, viram políticos, membros de um qualquer governo, e cedo se apercebem que há um mundo virtual e um mundo real. Que o primeiro comanda o segundo, que o segundo perdeu importância.
2º Até devem ser pessoas de bem.
Porém, aperceberam-se que nas governanças, primeiro que o fazer está o dizer que faz, primeiro que a verdade do feito, está o cinismo, bem orientado, daquilo que a massa quer ouvir.
3º Até devem ser pessoas de bem.
Mas, desde que a publicidade virou ciência e a psicologia estuda os desejos e as motivações das massas; desde que a comunicação social se tornou o primeiro poder, os membros da governança perceberam que se deviam rodear, mais do que de especialistas nas áreas específicas das pastas que detêm, de especialistas em audiências e em manipulação de verdade. Praticar uma langage de bois, como diria o velho Barthes, pela qual, sempre, se visa dar caução nobre a real cínico, pelo menos!
Perceberam que a massa está cada vez mais acrítica.
Perceberam que o colectivo, por ausência de pensamento próprio, vive da macro-sacralizada-incontestada opinião feita dos gurus do tempo.
Perceberam que aquilo que é dito de momento, perante as câmaras, microfones ou a jornais de grande tiragem, não é passível de contraditório em simultâneo.
Perceberam que aquele que não tem opinião e “fez” uma opinião, a torna sua e avessa a outras supervenientes, mesmo que repositórias da verdade.
Perceberam que hoje, em tempos que não há “cheta” para, sequer, ir passear para um qualquer “palácio dos pobres” (Agustina dixit), as massas, endogeneizadas, nesse fechamento de ostra em concha, deglutem doses absurdas de “treta” trasmitida pelo superador de todas as insuficiências, o ecrã que já foi mágico e hoje, mais que ilusório, é cartola de prestidigitador, no fundo, aquele que tem os dedos rápidos para nos surripiar da visão a realidade dos factos.
4º Até devem ser pessoas de bem.
Contudo, a venda da alma ao diabo, para poderem receber o afago do chefe, ou benquerença de uma opinião pública manipulada, diaboliza-os também, subvertendo todos os mais elementares valores comportamentais e sociais.
E perdem honra e vergonha.
E mentem com a boca ancha da mentira, que é a pior, porque mais dolosa e intencionalmente premeditada para enganar e induzir os enganados a agirem por palavras e actos enganosos, contra sua primária vontade, numa espécie de sedução, aquela que o código do processo penal preconiza, como prevaricação.
5º Até devem ser pessoas de bem.
Não obstante agem como malfeitores, numa grotesca encenação onde nada é deixado ao acaso.
Mesmo os esgares faciais; o tom de voz; a postura do corpo; a falsa emoção/comoção, etc.
E deste modo, tornam-se actores de uma pantomina onde tudo se subverte.
E deste modo, por tanto repetirem as mentiras, passam a acreditar nelas e a delas serem propagandistas oficiais.
E assim, outorgam-lhes estatuto de verdades.
E assim, tão interiorizadas ficam, que o político de uma qualquer governança, auto-erigido em farol de Alexandria, começa a chamar de mentirosos todos quantos se apoiam na verdade e dela fazem da vida esteios, e pelo acesso ilimitado aos meios de comunicação social subservientes e trauliteiros, difundem ondas de ódio a bem da sua mentira, contra a realidade, passando a mentirosos todos os defensores acérrimos da verdade.
6º Até podem ser pessoas de bem.
Mas não parecem, nem serão!

Porque sim!

Antes do 25 de Abril de 1974, quando queríamos notícias verdadeiras sobre Portugal, ouvíamos, clandestinamente, a BBC (e os saudosos Fernando Pessa e Rui Malho), Rádio Argel (e a voz desafrontada do Manuel Alegre), Rádio Portugal Livre, etc.
Hoje ouvimos a TSF, que se mantém como todas as rádios devem ser, isentas e críticas.
E a Rdf2, na sua especificidade.
Olhamos as tv's e, aqui, nem conseguimos escolher canal, emigrando mundo afora num zapping enérgico.
Lemos alguns jornais e percebemos que algo está "esquisito" nos meios de comunicação social lusitanos (felizmente, que não em todos).
Alguns parecem 'fretados'.... de tão yes, yes, yes, sir!
E vai daí, este sábado, definitivamente, saltou a tampa, na redundância do entendimento de que o seminário Expresso está parecido ao orgão oficial do partido socialista (absolutamente com minúsculas!), e deliberámos (nós, que ainda temos o 1º número!) deixar de o comprar ad perpetuam.
Fizemo-lo, outrora, durante um ano, por descargo de consciência, quando despediram (ou sanearam?) o cartoonista João Carreira Bom, naquilo que entendemos ser um acto censório inqualificável.
Fazemo-lo agora porque, de todo, perdemos a paciência para a pesporrenta, pseudo-magistral, parcial e medíocre escrita de mst's, hm's et al.
A eles nada importa, a nós, que não somos detentores de comportamentos desviantes, neles incluído o masoquismo, preserva-nos a higiene mental e deixa-nos de bem com a nossa consciência de leitor opinativo e crítico.
Bye, bye expresso...
Nota:
...e sempre se pode ler a imprensa estrangeira (afinal "isto", além de ser um sítio -muito- mal frequentado, não é uma aldeola global?)

Bancos & banqueiros, SA.

(...)
Pendons haut et court - c'est une image bien sûr - les dirigeants "toxiques", mais sans brûler leurs maisons, c'est à dire les banques, qui ont encore un rôle à jouer.
(...)
aider les emprunteurs et éviter que les banques ne prêtent à moindre taux à certains clients en se payant davantage sur les "mauvais clients".
(...)
je n’ai jamais compris le principe consistant à prêter à 5% à des gens dont on est sûr qu'ils vont rembourser, et à 15% à des gens dont on pense qu'ils ne pourront pas rembourser, alors qu'à 5% ils l'auraient sans doute pu. Si le but est d’aider les plus pauvres, et non de renforcer la pauvreté, ces pratiques sont contre-productives. Quant au crédit à la consommation, dont les taux frôlent allègrement les 18%, c'est du vol pur et simple....
(...)
Contre-Feux.Com
Bruno Lemaire


Assim dito até parece simples, não acham?

A Deusa Branca...

... alfabeto dos bardos e a viagem de Héracles.

Desvendamento

(...) "Se não estiver rodeado de amor, o rosto humano endurece e o homem que o observa tem então à sua frente, em vez do verdadeiro rosto, apenas a sua matéria, o que não tem vida, e tudo o que ele enunciar sobre este rosto será falso."
Picard, Max, Le Visage Humain, Paris, 1962.


Mandala e a dança de Teseu