sábado, junho 30, 2007

os sabujos do regime


NOTA IMPORTANTE:


Leiam o editorial do 'Expresso', de Henrique Monteiro.


Leiam a crónica do Vasco Pulido Valente, no 'Público'.


Sobre aqueles que atentam contra a sagrada liberdade de expressão, contra o "machado que corta a raiz ao pensamento"...


Escrevia M. Alegre:

"Pergunto ao vento que passa notícias do meu país / e o vento cala a desgraça e o vento nada me diz."


Como é possível???


Nunca tão actual. Nunca tão actual!

sexta-feira, junho 29, 2007

castelos lusitanos










lei da rolha

Os socialistas encabeçados por José Sócrates estão a asfixiar a Democracia.
A Censura vigora, a delacção instalou-se, a intimidação vulgarizou-se, a repressão vem a seguir.
Depois, o medo...
Porque quer Sócrates governar com o medo?
Que receia ele e os seus acólitos?
O caso da Dren, o caso da exoneração da directora de um centro de saúde... está o rastilho a arder para a opressão.
Só governa pelo medo quem, na sua fragilidade política, 'argumentando' pelo esconso desfiladeiro da força, receia a Razão, a Verdade, a Justiça e a Democracia.
SÓCRATES TEM MEDO!

instável equilíbrio


quinta-feira, junho 28, 2007

m' olhar...


morrinhenta, a aurora...

O mar hoje
Que tem e lhe faltasse ontem?
Os meus olhos de ver diferentes
Que têm hoje e lhes faltasse ontem?
A tua ausência na terra lavrada dos meus passos.

O mar hoje
É cimento
A escorrer babas de betão
De um cinza baço e sujo
Ganidor mais que a ronca nevoenta.

O mar hoje
É a minha ira fria
Os meus olhos que azul ficaram aço
A mão que te afagou
Que punirei numa fogueira.

O mar hoje
É o colosso que rouba a terra
E lhe devolve esferovite esfarelada
Paus secos rolhas bóias
Redes velhas peixes mortos.

O mar hoje
És tu
E um farol rouco
Velho e cansado
De uivar lamentos.

O mar hoje
É uma gaivota penada
Uma traineira podre
Um vagabundo nas dunas
Cacos da mensagem que não chegou.

O mar hoje
É um sol vestido de puta
Uma concha quebrada
Um molhe viscoso
A areia peganhenta nos meus pés.

O mar hoje
Sou eu.
Ontem éramos nós
Amanhã ninguém
Depois de amanhã não existe (s).

terça-feira, junho 26, 2007

exorcismo antigo


evita as margens quando subires o rio.
guarda as paragens para a descida.
vigia o sulco das águas e tenta ler a limpidez.
não respondas aos acenos dos lírios nem te distraias com as cotovias dos abetos.
vigia o sulco das águas até emergirem os seixos e te saudarem as trutas de dorso salpicado de vermelho.
aí terás chegado às águas frias da montanha e a quilha quedar-se-á fundo no leito.
segue o sussurro da água a pé descalço e desfolha-lhe as pétalas da rosa branca.
sete vezes cantará o faisão e de entre um estreito buraco na terra vermelha, por entre xistos ocres escorrerá a poção.
bebe-a com lentidão, pelo côncavo da mão direita.
saciadas sedes do caminho, asperge-te nos quatro cantos do corpo.
deita-te sobre a terra e comunga a água regatada.
então, sem pressa, inicia o caminho inverso.
o da penitência.
e delonga-te, colhe das margens e das ilhas todo o tempo que puderes.
semeia-o nas águas e no sulco das águas.
engana-o com toda a força da paixão.

edénicas maçãs

set' evas m'enviaram sete maçãs
uma distraiu-se e mandou uma laranja...
"Ó virgens do sol poente", que devo , pois, fazer?
deste vosso indefeso cândido, que s'assina 'adão'

segunda-feira, junho 25, 2007

os livros...


o pão...


... e a água.


the dark side


fraternidade alimária


chá dançante


urbi et orbi

hoje
espantada
a urbe
prefigurou-se
enclausurada
na gaiola
amarela
os urbanos
em silêncio tagarela
não deram conta de nada

domingo, junho 24, 2007

Santo João


"cante quinto", Francisco Palma Dias, Guim. Edit., 81

...haustas montanhas sossegadas onde enrolado em leite o sol renasce
com templos de colmo e castelos de Espanha nos cabelos

salgada espera
hispérido futuro eis a tua canga e o jugo dos teus bois.


Hortos de laranja
e uma mesa sóbria debruada a esteva
vinhos coruscantes
e grão a grão o granito dá azeite.

Ocres
rendas de bilro e de amêndoa, oiro
na voz grave em filigrana
e mãos que escalpam um deus que se derrama e se incorpora
a taliscas de pão, a estiva com broas pela popa e pela proa

Docemente
torres de canela onde a besta se esgana, claro assento
eis o menino, o vasto

murmurando do largo
um só apêlo luze

perpassa na reixa
o puro anseio orando

cruzeiro do sul e de sempre
dentro do teu centro eu me nutro e expando
e vejo
e escuto
e escrevo apenas porque canto.

(para ti que sabes que é para ti)

corre-te no peito o fio
fino de cobre ruivo
da forja que o fogo deu

esta noite, da varanda

o espanto do nada
estilhaçar todos os ruídos que nos habitam
e dilacerar até o modo do tempo nos tocar

sábado, junho 23, 2007

ainda é sábado?

linho algodão coroça
toque cálido espanto corça
há cambraias a pairar
em derredor de teus passos...
faíscas no andar
requebros de in dolência
almejo de te tocar
ébrio
impaciência

há veludos a pairar

em derredor do destino...

cetins sedas fustões linhos

um olhar em Almeria

um sussurro do Oriente

no burel leitos urdidos

acolhidos em Valência

em rocas teares tecidos

nus e alvos ao poente

fiandeira

feiticeira

linho algodão coroça

toque cálido espanto corça

o meu 1º carro desportivo

Na década de 50, naquele que viria a ser o meu 1º carro de sport (os folhos seriam de origem, ou opção?), com um ar felícissimo de quem tinha acabado de saber que o Juan Manuel Fangio triunfara no Grand Prix de Monaco.
(foto obviamente tirada por meu pai Álvaro)

porque hoje é sábado...

--" Bom Dia Meninas!", diz o Joyce (de James) Neto, com ar snoobish entediado.

sexta-feira, junho 22, 2007

haur idos nocti vagantes


limiar dos pássaros


Há um bosque casualmente nesta mão
há um homem neste poema e envelhece.
(...)
Agora que regresso à evidência da cal
dai-me um pouco de água para a festa do sol
sobre os lábios
(...)
Amanhã saberei em que regaço
as palavras se dispõem a dormir.
(...)
Na boca outras manhãs hesitam em arder.
(...)
Que dunas foram nossas naves altas?
(...)
eugénio de andrade

ontem veio o verão...





Era o verão, o seu desassossego.
Era o desejo,
o desejo rompendo da sombra
sem caminho, e doía.
Era o ardor, o mais diáfano
irmão da melancolia.
Era o amor, o espanto
do amor, desarmado,
sem abrigo.
Era o deserto, o deserto à porta;
e fervia.



eugénio de andrade, ofício de paciência

quinta-feira, junho 21, 2007

Museu Romântico, Porto










Ontem, a convite de uma pessoa amiga, visitei no Porto o Museu Romântico. Está situado por trás dos Jardins do Palácio de Cristal.
Na Quinta da Macieirinha.
Acede-se ou pela Rua D. Manuel II, ou Rua do Vilar, à Rua de Entre Quintas e, de repente, deixamos o Porto do século XXI para recuarmos duzentos anos.
Por entre muros altos, estreitas calçadas e uma vegetação frondosa, cerrada e secular, deparamos com o Museu Romântico, numa casa que foi pertença da família Pinto Bastos, antigos proprietários da Vista Alegre, rodeada de jardins e com uma bela vista sobre a Arrábida e o Rio Douro.
Nesta casa viveu (depois de exilado) e morreu o Rei Carlos Alberto de Piemonte e Sardenha, em 1849.
O que indiscutivelmente lhe confere uma visão ainda de maior encanto temático.
O interior recria com a genuinidade do autêntico, que aqui, não é o faz de contas do fingir, toda a envolvência de uma moradia fidalga de há dois séculos, na sua sucessão de salas, de estar, jantar, bailar, bilhar; de quartos, onde o Rei faleceu, de senhora, de crianças; da capela; todos decorados com peças de distinto mobiliário original.
Acresce-se a simpatia eficaz de um pessoal amável e disponível para nos guiar com competência.
A magnífica cidade do Porto nunca deixa de me surpreender.
A visitar, com urgência...

domingo, junho 17, 2007

exposição domingueira com 6 bonecros









fui ao baú dos "bonecros"
não sei se já os "postei"
mesmo que...
re...
porque sim!
me apetece
quem não gostar...
muda de sítio!
booommm diiiiiaaaa!





sábado, junho 16, 2007

I
A aresta azul da noite, cruza-se de viés pelo lado mais fundo, até chegar ao dossel negro do céu, onde as luzes da cidade se afundam. Uma poalha líquida cobre melancolicamente os vidros do carro, à medida que rasgo nocturnas vozes no silêncio que quebro. Caminho-te a direito, contra a face de granito do teu corpo. Tenho-te num retrato da memória pendurado na dianteira do vidro, como se paisagem fosses no deserto do caminho. Todos dormem à passagem deste tempo quase invernoso. Só eu percorro o mundo em busca do amor. Nove anos e sete luas busquei em sete sóis o homem que amei. Sete vezes te encontrei e outras sete te perdi. Agora que te cruzei o peito, não recuo para a fogueira mansa de antes. Toda a minha alma te quer possuir, o mais profundo espaço do meu corpo se funde docemente num langor de ti. Quero-te na cama, na nudez da espera, a cúmplice chuva sob os dedos, em queda lenta a janela embaciada e o teu olhar a caminhar para o galgar do tempo, a hora passa, o corpo não dorme, soam as badaladas da sonolência uma a uma na tua cabeça, mas a espera desce. Quero arpoar o âmbar do teu corpo, introduzindo-me na pele de linho em que te escondes. O leito oscila, no alagado desejo da chegada, o carro trepa a subida, tu moves uma perna e suspiras. Sentes a tua masculinidade, admiras o teu corpo, a vida desce-te onde o tempo te remete. Saboreias a minha pele na tua e sabes da seda do regresso. Eu cheguei, dou-te um beijo enquanto penduro o dia no cabide, contrariedades e alegrias, sorrisos e infâmias, tudo geme, no momento em que te atreves a mim, com a vontade expressa no rosto, o olhar, ah, o teu olhar não me vê, está para além do prazer, uma cegueira que é prazer. De repente o vestido arregaçado, a chave do inferno na fechadura, estamos sós e estamos dentro, a tua mão já galgou as chamas e o rio do esquecimento, introduzes directamente a tua mão no meu sexo e a noite cresce no quarto, voraginosa e lenta...
II
Acabamos no lume apaziguador da pele, tu entras-me no corpo salgado, admoestas-me os seios friorentos, o vestido é fino e a chuva entrou-me pelos poros, trago-te a chuva da minha pele, tu bebes de um trago o desejo obscuro e negro, o frio passou, primeiro veio um cálido suspiro, depois foi lânguido e mais fundo, depois vieram os calores despudorados, eu despojo-me de tudo em teu favor, desalinho-me cabelos e roupa, e mostro-te a verdade do meu corpo. Puxas-me para o leito, onde me montas em toda a pujança do teu sangue, o sangue corre-te mouro ou cigano e eu quero-me pasto dos teus dentes nómadas. Mordes-me toda, da cinta ao seio, do seio à nádega, eu grito de prazer. Mais. Morde-me toda, arranha os ossos como se tivesses esporas e me incitasses a galopar para o fundo da noite e do prazer. Incita-me, à languidez da entrega, martiriza-me para que eu não possa esperar mais pela consumação da posse. Assim te quero. Vieste a mim já teso em frémitos, sem que sequer me deixasses sugar-te todo ao meu jeito. Queres metê-lo dentro numa ânsia inadiável do gizado gozo. Sabes que a noite nos entregou a chave do Inferno e tudo é ser chama e gelo, neve e prazer. Oh! Paramos na eternização do momento. Tensos um no outro, não podemos estar mais tensos. Empurras, empurro, deixamo-nos prender também pelo pescoço num beijo junto à palpitante artéria. Aguças-te, lambes, mordes, mordo, gemes, gemo e puxamos toda a carne para o lugar do outro. O prazer. Gemes, gemo ou grito. Ah, o prazer da posse assim, tremendamente aguda, aguçado desejo de aguçada carne. Gulosas paredes te contêm numa artéria viva, a porta estreita do outro lado, a descida até ao útero da paixão. Abres, rasgas a passagem, tiras e eu lambo e mordo e amasso a tua carne entre os meus dedos. Meu Deus, o teu corpo, que me apetece beijá-lo todo, mergulhar por ti acima, tu deixas que te ame, eu faço.
III
É tarde e eu estou no meio do vórtice, luto para me manter à tona da noite e por que a realidade me deixe de gravitar em redor do corpo, mas tu já há muito te perdeste de mim e avanças para dentro do teu prazer mais fundo, e por um momento, esqueceste-me no zénite da cegueira. Admiro o teu rosto belo, e mais ainda o modo como os teus olhos partem primeiro, vejo-te sobre mim e quero de repente estar totalmente dentro do teu prazer, senti-lo como meu, ser o vértice e a aresta em que te deixas embater, quando te ausentas do olhar. Chamo-te, peço-te que pares, mas o teu barco tem pressa de mergulhar bem fundo no naufrágio, eu só assisto e recebo de ti as voltas bruscas do membro no âmago do meu útero. Pára. Olha-me, sou eu sob o teu corpo, espera-me, envolve-me, embrulha-me no teu prazer, penetra-me pelo lado da noite sem fundo, vagueia-me por dentro como se me lambesses a alma devagarinho, não me fodas só como um homem, come-me como uma iguaria lenta, abisma-me e puxa-me, leva-me e traz-me, mas não partas sem me dosear no eixo do teu prazer. Desculpa, desculpa, gozava ardentemente a tua música, as tuas batidas interiores, a tua seda quente acolhe-me como uma esponja, eu quero morrer no fundo da tua concha. Espera, ainda quero mais, ah, eu paro e recomeço, queres que te atormente, meu amor? E tu recomeças. E eu recomeço e a noite afasta-se para tão longe que só vejo o modo doce e súbito como os teus olhos se ausentam para dentro. E nós voltamos a partir para o fundo aguçado da noite, marginamos a vontade de partir e exaurir toda a liquidez das veias. Mas não vamos. A noite casou-nos dentro do prazer e a chuva não terminou ainda o seu encantamento. Queres-me muito assim? Quero-te todo assim, dentro, ah, que fundo me mexes no corpo, meu amor, eu vou, para voltar a ir, volteia-me agora, arremete-me fundo a tua vontade, eu esfrego-me por ti, abraço a noite em declive, invisto tudo na ponta úmbria e molhada do teu corpo e mordo o que posso, para não gritar o teu nome ao mundo. Tu ainda me queres do avesso da tua vontade. E eu preparo-me para te dar tudo o que do prazer a noite nos puder dar. Enquanto chuva houver, meu amor, enquanto chuva houver.


( Texto enviado por Ana Pontes )


G


no tríptico
de nove vidas novo
perdeu-se a perspectiva


prega do vestir ------ mal gesto
brilho do olhar ------ mal dito
pomba revolta noutra dimensão


sexta-feira, junho 15, 2007

vivaldi

Acabei de recomendar a uma estimável amiga a audição do "Stabat Mater", de Vivaldi, interpretado pelo contra tenor Carlos Mena.
Momento alto da obra vivaldiana, com uma sublime interpretação, tem ainda a vantagem desta encantadora capa, representando A Lamentação sobre Cristo morto, de Perugio.
(por favor, clicar na imagem)