quinta-feira, dezembro 31, 2009
quarta-feira, dezembro 30, 2009
assimetria
Tu és a norma, eu sou a transgressão.
A hóstia da comunhão afunda-se no cálice,
Ou cai das mãos estendidas, áticas e demoníacas.
segunda-feira, dezembro 28, 2009
suydade » saudade
domingo, dezembro 27, 2009
tão permanente quanto esquecida verdade
sábado, dezembro 26, 2009
Ecce Homo
É um vício puro, exorável, uma prece. Juramento ou esconjuro, aquele exórdio. Uma consolação elevada, mas incerta. Modo de flutuar, ou ser, constante. A palavra ritual tomada da fonte onde se erguia antes do zelo ser ciúme. Ouço-A sempre. Litania ou súplica. Hoje, indeciso, sei. Como uma penetração na terra quente, sem olhos, uma vertigem, destino a dedo dito. Creio, e é dúvida que me assiste, receio, hesitação, nunca a estatura, à semelhança de teu corpo, ser igual. Assimetria que uniu até romper. Aí, o som foi murmúrio e o metro distância, ferida, fenda, de chaga que não fechou. Cal viva. Salário de teu corpo ou sal. Às penas dado ácido. Volvem Invernos sobre este vício. Puro. Limpo pelo suão e chuvas. Tão gabada no sumo da prece. Som emitido em canto por toda ti. A modo de trigo na eira onde o musgo foge à coita de um palhal sombrio. O odor da água dada em rêgo à terra. És tu vinda num só sentido, pois já tacto há muito a ânsia tornou sangue. Ou extracção na pele toada. Incumpri a via assim aberta. Nem logrei teu vasto alcance. Um infinito é também deserto onde a ofensa é grão vermelho. Ou ponta de látego vibrante no oaristo da miragem. Depois, nem moral consumida. Alheio a tudo, até a ti, de um passo abri abismo e esquartejei-nos sobre o eixo dos ventos. Uma ara de luz varrida a bafo quente. Endemoninhado sopro centrifugado. Nem sei sequer se foste ausente desse turbilhão. Só serena nessa indecisão. Um ferro na pele por olhar. Sempre cicuta. Tanto te quis furar os olhos para te ver… Às vezes raiva, outras um balbucio de só sílaba constante. Mas a luz… esse luar, tal brilho me tolheu. Olhei-te dias a fio na atalaia do devir (e das auroras). Peso insuportado com o pensamento que arrastei. Eis o Homem, assim nu ou desvendado à lívida expiação. E não foi traição, culpa de acusação ou modo de ser cobarde. Foi falta. O intento negou corpo e padeceu na mudez o sortilégio de uma apatia pelo norte assoprada. Perdi a palavra. Deixei-a queda na boca do medo. Foi erro. Foi silêncio e foi fim.
sexta-feira, dezembro 25, 2009
quinta-feira, dezembro 24, 2009
terça-feira, dezembro 22, 2009
sábado, dezembro 19, 2009
O granito...
sexta-feira, dezembro 18, 2009
quarta-feira, dezembro 16, 2009
terça-feira, dezembro 15, 2009
segunda-feira, dezembro 14, 2009
sexta-feira, dezembro 11, 2009
quinta-feira, dezembro 10, 2009
quarta-feira, dezembro 09, 2009
terça-feira, dezembro 08, 2009
domingo, dezembro 06, 2009
De alfa a ómega...
Estas deliciosas sessões...
Trinta anos volvidos sobre o surgimento do 1º título, fui convidado pela Livraria Pretexto / Hotel Montebelo para a apresentação de “Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?”, que decorreu ontem do outro lado da rua onde resido.
Não sou muito dado a apresentações. Mas como gostaria de fazer algumas fotografias do Escritor e queria confrontá-lo com uma leitura muito pessoal que fiz deste título, lá me decidi.
Uma noite fria e chuvosa. O Hotel, lá dentro, tipo estufa tropical, aspergia doses estonteantes de calor artificial para cima das pessoas. Como sou um ‘esquentorado’ por natureza, e apesar de já estar em camisa, último véu da nudez, comecei a dar-me mal com aquele suplício de Purgatório lento ou cozedura ‘au ralenti’.
Ademais, marcada a sessão para as 21H30, às 22H00 ainda não começara, vendo-se o escritor, na sala ao lado, a jantar no parnasiano remanso a que tem direito.
Como nós, o público, temos direito a mais respeito, consideração e rigor horário.
Há muito que perdi a paciência para esperar seja por quem for.
E o direito ao desrespeito de uns é directamente proporcional ao direito à minha intolerância.
Fiz o que estava ao meu alcance.
Vim embora.
Porém, deixo aqui, no próximo post, o meu enfoque, que creio pioneiro/original (presunção à parte) da leitura desta obra… à Vossa consideração e ao muito respeito que me merecem, pessoas que eu não conheço, mas que só por virem ao ‘brevitas’ são merecedores de toda a minha atenção e porfiado esforço.
Para um começo de leitura do último livro de A. Lobo Antunes.
Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?
Boa pergunta, embora a posteriori saibamos ser verso de toadilha de infância.
O título do último livro de António Lobo Antunes.
Os cavalos, a sombra e o mar.
Uma família ribatejana.
A mãe que aguarda a morte à hora marcada, um pai finado, marialva também dado ao jogo e os filhos: 3 raparigas e outros tantos rapazes.
Todos com sua cruz.
Ana é toxicodependente.
Rita que um cancro matou.
Beatriz que os homens deixam para trás.
João é pederasta.
Francisco consome-se em ódio.
O bastardo que é invisível.
Mas… o que me ocorreu de imediato foi a isotopia da morte.
Não inúsita, em LA.
Pelo contrário, desde sempre de atalaia.
E o desde sempre remete para há 30 anos, aquando da saída de “Memória de Elefante” e “Os cus de Judas”.
Mas aqui, a morte mistura-se com a “Fiesta”.
E esta lembra E. Hemingway, aquele que não exorcisou a morte, embora a tentasse desalmadamente.
E onde está a “fiesta”?
Na organização do romance.
Senão vejamos:
Um curto capítulo introdutório:
- antes da corrida.
Quatro capítulos em sequência:
- tércio de capote.
- tércio de varas.
- tércio de bandarilhas.
- a faena.
Todos eles se dividindo em quatro subcapítulos, assim como o antepenúltimo:
- a sorte suprema.
Fecha como abre, com um curto capítulo de conclusão:
- depois da corrida.
Assim, entre um antes e um depois, desenrola-se a lide espanhola.
E chegando a Espanha, chegamos a Frederico Garcia Lorca.
E a um dos meus títulos preferidos:
Llanto por Ignacio Sanchez Mejia
Que se divide assim:
La cogida y la muerte.
La sangre derramada.
Cuerpo presente.
Alma ausente.
Estes quatro momentos fundem-se no verso:
“Estamos com un cuerpo presente que se esfuma…”
Ainda assim, no momento 1, lemos:
“lo demás era muerte y solo muerte”
No momento 2, lemos:
“la luna de par en par.
Caballo de nubes quietas…”
No momento 3, lemos:
“Yo quiero ver aqui los hombres de voz dura.
Los que que doman caballos y dominam los rios…”
No momento 4, lemos:
“No te conoce el toro ni la figura,
Ni caballos ni hormigas de tua casa.”
E, perante tanta recorrência, da morte, dos cavalos, dos rios, e da (tua) casa, temos enunciado o microcosmos da diegese deste romance de LA.
Ou então, neste imenso mosaico de Kristeva, onde todos os textos se interpelam, a intertextualidade coincidiu com rigor.
Este seria o primeiro passo, passo pioneiro no enfoque, para ler esta obra.
Sempre, um ponto de partida.
Ou mais um ponto de partida, de entre as infindáveis visões dos plurais leitores.
Aqui vo-lo deixo.
Nesta teia há sempre, pelo menos, duas pontas.
Enrolai esta no indicador direito e ide à cata de mais pontas.
Caminhai...
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