segunda-feira, abril 30, 2007
domingo, abril 29, 2007
A Restante Vida, MG. Llansol, R. d' Água, 2001
Lição XXIII -
"Confessámos uma à outra: -- Como me deixa triste a despossessão do tempo.
Já embarcadas na caravela, dissemos a medo: -- Vou ver. --
No porto, a caravela estava na noite que se opunha ao dia do ano;
gaivotas negras recamavam as velas,
e estrelas se enraizavam nas casas do porto
e estrelas se enraizavam nas casas do porto
porque o rio é celeste
e a mútua morte pode encontrar-nos no caminho."
sábado, abril 28, 2007
sexta-feira, abril 27, 2007
quarta-feira, abril 25, 2007
Permanente Alforria
1. o paredão enfrenta o mar que agride
2. a gaivota sulca o ar que acolhe
3. o sol arreda a nuvem que corteja
4. o mar liberta a onda que revolta
5. a areia sorve a água que agrega
6. o pé pisa a concha que estranha
7. o corpo saúda a natureza que alenta
8. a solidão rodopia no ar que afaga
9. a manhã coalha-se na luz que transporta
10. o cansaço esbarra no quadro que confronta
11. o sábado esgota-se no ocaso que redime
12. a intenção queda-se no esgar que não se cumpre
13. o domingo chega na cópia que oprime
14. o homem só regista o tempo que o suprime. e eis
15. que a liberdade toa no peito o acto de ufano feito ave,
16. no infinito convocando ao vento a esperança
17. em Abril canto comum de silêncios incontidos
18. liberdade do poder íntegro. inteira alforria do ser,
19. que nega a agressão
20. e ao pé o direito de pisar
21. e as solidões rodopiantes
22. e esgotados sábados redentores
23. e cansaços esbarrados de confrontos
24. e esgares em rictos mal cumpridos
25. e cópias das supressoras opressões.
pn, in Na Liberdade, Antologia Poética, 30 anos - 25 de Abril, Garça Editores, 2004.
2. a gaivota sulca o ar que acolhe
3. o sol arreda a nuvem que corteja
4. o mar liberta a onda que revolta
5. a areia sorve a água que agrega
6. o pé pisa a concha que estranha
7. o corpo saúda a natureza que alenta
8. a solidão rodopia no ar que afaga
9. a manhã coalha-se na luz que transporta
10. o cansaço esbarra no quadro que confronta
11. o sábado esgota-se no ocaso que redime
12. a intenção queda-se no esgar que não se cumpre
13. o domingo chega na cópia que oprime
14. o homem só regista o tempo que o suprime. e eis
15. que a liberdade toa no peito o acto de ufano feito ave,
16. no infinito convocando ao vento a esperança
17. em Abril canto comum de silêncios incontidos
18. liberdade do poder íntegro. inteira alforria do ser,
19. que nega a agressão
20. e ao pé o direito de pisar
21. e as solidões rodopiantes
22. e esgotados sábados redentores
23. e cansaços esbarrados de confrontos
24. e esgares em rictos mal cumpridos
25. e cópias das supressoras opressões.
pn, in Na Liberdade, Antologia Poética, 30 anos - 25 de Abril, Garça Editores, 2004.
vai Ela aos 33, com pétalas, hoje, sombrias...
Bento de Jesus Caraça, torturado no antro dos suplícios pidescos, perguntou ao carrasco: "Porque me torturam?" Ao que o algoz respondeu: "Se o não fazemos, amanhã está você no lugar onde eu estou, a torturar-me." Com a serenidade da sua elevação moral, o cientista respondeu: "Não. Eu nunca o faria, visto que estou aqui porque nunca podia estar no lugar onde você está."
(citado por Natália Correia, in Poesia Completa, Dom Quixote).
terça-feira, abril 24, 2007
contigo falo.
baixam as vozes à recôndita partida lá onde se indecidem os sons, erguidos ao corpo os gestos. volteia etérea a perfeição. a agressão no rito pousa. aos póros afluem pávidos os sinais. a mão a esmo aos ventres chama. o seio à boca freme. a boca à boca grita. o afago livre da fonte voraz esvoa. túmidas as palavras vertes.
segunda-feira, abril 23, 2007
ufana bulha
lívido, o dia, diz-te ao ouvido, Bem-vinda que emerges pura, tão pura quais areias do deserto,
e há sangue a escorrer, sangue a escorrer, dos ditos, espuma de sargaços, algas que enforcam a pele, a pele
e falas e dizes-dizes dores de ora e de outrora, nojos futuros
e a lúcida loucura, a lúcida loucura, incha de ira a rocha bramadora de augúrio ao vento
além, além, a meio do vale verde há três carvalhos antigos de atalaia às memórias espojadas pelas ervas
feridas abertas, em tua boca gritos de orquídea, ufana bulha, ufana bulha.
domingo, abril 22, 2007
provincianos domingos de um labrusco serrano
A Casa do Décio condoeu-se dos peregrinos e apaziguou-os com vitela arouquesa, cabrito serrano e costeleta de 600 grs a peça! (com arroz de carqueja, ao forno alourado, e batata assada, da leira ao lado).
Esta rapaziada é lesta a amesendar. Talvez crentes convictos do aforismo anunciador que à mesa não se envelhece, são lentíssimos a abandonar a arena da gladiação, três horas volvidas.
E só o fazem, prescientes dos despojos todos saqueados...
A descida de Alvarenga para Arouca (um serpentear de 20 quilómetros), de tão verdejante e frondosa alenta-nos o ímpeto e chama-nos à sombra da bendita ramaria.
Regresso à origem, sentimento de romaria cumprida, por arredor das 19:00.
O dia está ganho.
O corpo esmoído, alquebra-se.
Amanhã perfila-se a quase última semana de Abril, a meio partida, ufana, de feriado ao Povo.
Na foto, tirada pelo Lobão Teixeira, este Vosso criado, de corpinho dorido, por tanta canseira...
algures entre a arada e o montemuro
As paisagens são roubadas do céu das águias.
Os caminhos, estreitíssimos, em terra batida ou areão sobre alcatrão, ladeiam-se de precipícios de centenas de metros (muitíssimo impróprios para os carros que conduzimos, que se atravessam inesperadamente cada vez que se acelera um pouco mais...).
Os montes sucedem-se, regulares e nus. As zonas verdes rebentam da ardida terra. O xisto tem ali casa posta.
Em baixo, muito em baixo, corre o Paiva remansado (o rio menos poluído da Europa).
A toponímia dá-nos palavras como Parada de Ester, Ermida, Cabril, Trancoso de Alvarenga, Canelas, Arouca, Moldes, Janarde, Coveló de Paivó (em Vila Nova de Paiva existe um Covelo de Paiva), São Macário, Aldeia da Pena, Gafanhão, Reriz...
As aldeias, perdidas a esmo no meio da serra, têm homens crestados unidos em rebanho (ou alcateia) à porta da taberna, copo de tinto na mão. Vêem-nos passar com um ar indiferente como se estivessem à beira de uma via rápida, e somos, talvez, os únicos veículos da semana...
O cheiro, ácido, a mijo da de ovelha, toma-nos as narinas, de súbito e distrai-nos do odor a rosmaninho que nos assola.
É o Portugal profundo. Alheado de tudo que não sejam as leviandades do tempo, o preço dos adubos, da madeira de eucalipto e do anho à peça.
sábado, abril 21, 2007
sexta-feira, abril 20, 2007
um grande amor
I. Estar apaixonada é a pior doença. A minha vocação é estar sempre doente. Irremediavelmente, seguidamente, profundamente, permanentemente doente.
II. É verdade, o amor que me falta. Concretamente é isso que me falta. Um grande amor para as margens do rio e para as ruas brancas da cidade. Um grande amor de dia e de noite. Um grande amor selvagem e macio, e ao mesmo tempo frio, leve e frio, como o ar que respiro de noite nas ruas da cidade.
Enfim, um grande amor que eu já não tenha usado.
Yvette Centeno, Três Histórias de Amor, Porto, Ed. Asa, 94.
e porém, é mentira...
'Splende o sol. Ri o verde. Além, o mar
É azul fundo do azul leve do ar.
(...)
F. Pessoa