sábado, maio 31, 2008

estalada luz
açudado alvor
rompidos sangues
acerados corpos
ventosa rosa
lasciva dádiva

inúsito oriente
opiada seda
(...)

j'écoute au bout des doigts...
ta peau ainsi touchée
si souple si averti
luit dans l'ombre des cheveux
...me murmurant un frisson
de causeurs bien ternis...

sexta-feira, maio 30, 2008

inédito de Vergílio Ferreira

Do espólio doado à Biblioteca Nacional pela viúva de Vergílio Ferreira, surgiu ontem nos escaparates o Diário Inédito do grande escritor gouveiense, em edição da profª Fernanda Irene Fonseca.
Reportando-se ao período de 1944-49, é um documento preciosíssimo, a juntar aos 5 tomos de Conta Corrente, também editados pela Bertrand.
Custa 15 euros. Não busque pretextos para o adquirir. Já! Antes que esgote e tenha que se contentar com uma 2ª ou 3ª edição.
pn dixit...

quinta-feira, maio 29, 2008

Eduardo Lourenço

Em edição de autor e QuidNovi, de Maio de 2008, Miguel Real investiga este grande estudioso e crítico da Cultura Portuguesa, em quatro vertentes diferenciadas: Questão cultural; Questão política; Questão estética; Questão filosófica. O 3º item dá-nos uma visão notável das relações Orpheu / Presença. Acresce uma bibliografia activa de E.L. e um indice onomástico precioso.

terça-feira, maio 27, 2008

O amor e o escárnio

Cinco contos: Heloísa; História de Mainfreda, herege de Milão; A esgana-feras; Qu, o comunista utópico; Os Gregos não eram antigos. Histórias povoadas de hereges, fanfarrões, transgressores, provocadores... as de Dario Fo, em O amor e o escárnio, da Gradiva, Maio de 2008. Acrescem os magníficos desenhos deste dramaturgo, que até foi Prémio Nobel em 1997...
Leitura (divertidamente) obrigatória!

segunda-feira, maio 26, 2008

húmidos registos matutinos

gemidas lágrimas ao vento airadas
...alba tão negra alba...
tão mal erguida da noite fria
(isto para vos dizer que às 07H00, enquanto o Argos e o Joyce vai-que-mija-mas-não-mija, m'ensopei em rija chuva! triste sina, a de dog-sitter...)

domingo, maio 25, 2008

esperar o exaspero nu desejo
ali nós de carne assim górdios
exarado laço (real) ausente...

sábado, maio 24, 2008

A minha delicada amiga, Mademoiselle Icse, e a sua esplêndida figuração da esférica (e dolce) forma do mundo.

Possession: A Romance - Byatt

Interessantíssima proposta de leitura, da Sextante Editora, Abril de 2008, principalmente para quem gosta de literatura, mais ainda para quem aprecia literatura inglesa victoriana, esta estória de dois jovens assistentes-investigadores universitários em torno dos poetas Randolph Henry Ash e Christabel LaMotte, por onde vagueia também E. Dikinson, entre outros...
A sua autora, A. S. Byatt, professora de literatura até 1983, sabe do que fala e é óptima conhecedora do cenário.
A extensão das 529 páginas de Possessão e o apurado grafismo da capa de Susana Cruz diluem-se na pequenez dos caracteres EudaldNews-Roman.
E é pena, pois mais valia aumentar o número de páginas e cortar ligeiramente no lucro.
Os leitores agradeciam a cortesia!
in Aquilino Ribeiro no Brasil (1952), os editores (Livraria Bertrand) anunciam no prefácio o livro que nunca saiu:
"Brasil desmedido -- e que vai entrar brevemente nas máquinas"...
Cad'êle?

sexta-feira, maio 23, 2008

diáfano corpo-forma
a teia
olhos o pasmo
A Magazine Bertrand de Setº de 1927, recém-adquirida, traz um conto de Aquilino Ribeiro, um inédito, O Tesouro Escondido, que é o "miolo" do romance publicado em 1932, A Batalha sem Fim, do qual temos a 1ª edição.
Que mais não seja, e para além da curiosidade, serve-nos para reflectir sobre o modus de criar, de conceber, de incubar e de publicar, do Mestre.
ps: destaque ao belíssimo corte à garçonne, imortalizado depois, por Beatriz Costa.


Chegou-nos hoje por mão amiga a 1ª edição de Terras do Demo, de 1919.
A encadernação não é das mais conseguidas; interessante é a refª à editora: Livrarias Aillaud & Bertrand -Aillaud, Alves & e Cia.
Esta última designação é inusitada, e que saibamos, irrepetida.
Aceitamos ajuda...
Com esta, ficamos com 4 distintas edições da obra, todas com especificidades, ou a nível de ilustração de capa, ou de encadernação, ou de ilustrações de Abel Manta, etc.
Complicado... ser bibliófilo aquiliniano!

quinta-feira, maio 22, 2008

Joana Serrado - Botânica para um luar azulinho


Jarros: Arum italicum. Envolto por uma bráctea chamada espata, o teu espádice contém milhõezinhos de fotões descobertos. A polinização ocorre quando o estame amadurece e as câmaras da antera se rompem. Mas como o jarro é uma flor unissexual, vistosa na cor e na dimensão, recorre à polinização por insectos. As joaninhas, da família dos coleópteros, não polinizam, mas protegem as culturas. São vermelhas e negras e traficam o verde e azul das minhas algas para os teus olhos. Dão cor aos teus olhos. Alojam-se nos teus olhos. Tornam-se a menina dos teus olhos.


quarta-feira, maio 21, 2008

dão-se alvíssaras...

terça-feira, maio 20, 2008

literatura portuguesa actual

O escritor e jornalista Baptista-Bastos, que já gentilmente colaborou connosco em Letras Aquilinianas, surge com este romance Viagem de um pai e de um filho pelas ruas da amargura, em edição da Oficina do Livro, Maio de 2008, sobre o qual o sapiente crítico Óscar Lopes escreve: " Com este livro, Baptista-Bastos produziu o livro dos livros novelísticos da sua geração, senão de toda a literatura portuguesa de aquém 1950." A ler, já!

A 16ª edição, com 100.000 exemplares, Prémio Pessoa 1997, de De Profundis , Valsa Lenta. Das obra finais de José Cardoso Pires, um dos melhores prosadores portugueses contemporâneos, uma inusitada viagem ao mundo da doença, do acv que o acometeu em 1995. Referência imperdível na bibliografia do autor. Da Dom Quixote, 2005.
A Prisioneira de Emily Dickinson, estranha história de uma jovem, Emília, que assume a personalidade da sua autora predilecta, Emily Dickinson, enredando-se numa gradual teia de obsessões que a conduzirão à...
De Ana Nobre de Gusmão, já viram prelo sete anteriores títulos, vindo a ser publicada pelas edições Asa (Maio de 2008). A seguir com atenção.
BOA LEITURA!











segunda-feira, maio 19, 2008

é o futebol, pá!





Desenrola-se um fenómeno (sociológico?) interessante em frente à minha casa: desde as 15Hoo que se aglomeram pessoas de idades variadas, que vêm entupindo o trânsito, tirando o estacionamento, dando uns berros de vez em quando, ostentando cartazes que não almejo ler... etc.
É a selecção nacional...!
Que vem acampar para estas bandas (deviam saber que eu moro cá, só pode!).
Por causa de um estágio, ouvi dizer.
De dez dias...
Lá estão eles a gritar!!!
Hu! Hu! Hu!
Isto não traz só desvantagens... a autarquia pintou os lancis, tirou as pregas todas do alcatrão com cilindros de alta eficiência, plantou centenas de florinhas nas rotundas, cortou as ervas daninhas e... pasme-se... andava eu a reclamar há anos candeeiros no parque de estacionamento em frente, e de repente, de um dia para o outro, nasceram tantos que a noite se fez dia! Até a rega da relva levou canalizações novas e esguichos que mijam direito...!
Abençoada tribo!
De facto, haverá maior milagre que o futebol nacional?
Quando o pão escasseia... o circo aumenta!
E não há nenhuma alma caridosa que me convide para um sítio sossegado durante dez diazitos?

domingo, maio 18, 2008

Aquilino no Brasil

Aquilino Ribeiro é oficialmente convidado a visitar o Brasil, em 1952.
A Bertrand, pelas mãos dos seus editores, quis perpetuar o testemunho e honrar, também e assim, um dos seus autores mais constantes e devotamente fiéis, publicando em livro os mais significativos momentos desse itinerário, justamente ancho das maiores homenagens, nunca, em vida, prestadas na Lusa pátria.
Foi preciso escoarem-se 55 longos anos ...
Hoje, nesta manhã de domingo cinzento, veio-me às mãos e deu cor ao dia...

sábado, maio 17, 2008


Dormi !
Eu olho a noite até me enegrecer.
Insisto sem pálpebras.
Torpe de cansaço, continuo quêdo a olhá-la e a ler-lhe o texto, num cursivo porfiado sem iluminuras persas.
Basta o distinto e límpido ciciar da brisa na ruga da pedra e um pensamente que escrutina o dia ido como um canivete rombo a pele.
Sem lisonjas nem salivas de prazer.
Cedida ao dia... me cedo enfim à luz que (o) fende.
Numa trégua mais me rendo e no lugar de mim ponho o outro que à luz desliza.
Releio tu mensagem da madrugada "porque não me falas?"
"Porque tu ignoras os teus actos" respondo à manhã vazia.

sexta-feira, maio 16, 2008


Método Duvidoso II

"Alguma vez faremos amor?" - interrogam as orquídeas, plantas herbáceas perenes, monocotiledóneas, terrestres e saprófitas, mas nunca parasitas verdadeiras, que são o teu regaço.


Joana Serrado, Tratado de Botânica, ed. quasi, 2006.


notas do pn:

orquídea - testículo + suf. idea
saprófitas - plantas podres
monocotiledóneas - subcl. de pl. angiospérmicas, caract. por embrião provido de um só cotil., raiz fasciculada, caule atravessado por feixes condutores fechados, folhas invaginantes com nervação paralelinérvia e flores trímeras
angiospérmicas - vaso + semente
fasciculada - feixe pequeno, pequeno tufo de pêlos ou cabelos
invaginante - capaz de envolver (total ou parcialmente) o entrenó
trímera - constituída por três partes
entrenó - espaço entre dois nós consecutivos do caule das plantas
caule - haste, parte alongada do eixo de uma planta que nasce acima da raiz, cresce em direcção oposta a esta, suporta as folhas e estabelece a comunicação entre elas e a raiz, para a circulação da seiva
seiva - saliva, alento, vigor

regaço- der. de regaçar, recolher, cova que a roupa faz entre os joelhos e a cintura de quem está sentado

cantiga de Maio


Não há em Maio dias assim. Inconstantes no humor e bravos de chuva e cinza, são eu numa frivolidade irada. E até o ardor no estomâgo. Murro dado por mão recusada no bom grado ora estendido em hora má. O guarda chuva recém-trocado no chinês por uma moeda de euro é igual a mim. Abre-se e está pando, tem duas varetas partidas e eu amolgado sorrio à curiosidade dos olhos que me molham e desço indiferente a rua Direita. As lajes de tão lavadas são pêgos de corgo - edredon de lágrimas cozido à pele.

nudação

Maria João Franco, 96.

os poetas...

Encantar-te-ás com os poetas até conheceres um.
Com calças de poeta, camisa de poeta e casaco
de poeta, os poetas dirigem-se ao supermercado.

As pessoas que estão sozinhas telefonam muitas vezes,
por isso, os poetas telefonam muitas vezes. Querem
falar de artigos de jornal, de fotografias ou de postais.

Nunca dês demasiado a um poeta, arrepender-te-ás.
São sempre os últimos a encontrar estacionamento
para o carro, mas quando chove não se molham,

passam entre as gotas de chuva. Não por serem
mágicos, ou serem magros, mas por serem parvos.
A falta de sentido prático dos poetas não tem graça.

José Luís Peixoto, Gaveta de papéis, ed. quasi, 2008.

quinta-feira, maio 15, 2008

brinquedos

do MGB GT mkII de 1969, british racing green, apenas ficou uma jante raiada ...
e alguma saudade dos milhares de quilómetros bem gozados...

quarta-feira, maio 14, 2008

pendilhotos


Os tamancos de Pendilhe, de tromba erguida, calçado secular do gentio das Terras do Demo, com meia de lã grossa e ruda, de Alvite -- em plena Nave -- em dias de grossa invernia ou romaria, que no estio ia o pé caloso nu.
Feitos do couro curtido do bovino e da madeira dura da faia, usados com a véstia de burel apisoado no pisoeiro de Fráguas, antiga Frádegas ou Frávegas, eram adereços de remediados, que não de pobre.
Ainda conheci esses artífices pessoalmente, descendentes dos primevos, em 1974.
Recordo (e tenho algures essa imagem que captei) um madeiro rasgado à mão aberta, à entrada de Pendilhe, que rezava: "Cada alevantamento alqueire a meio". Era a pub do dono do touro...

(re) vistas


papéis velhos


terça-feira, maio 13, 2008

bibliofilia aquiliniana

Chegaram-me hoje às mãos estes dois títulos.
Estrada de Santiago é a 3ª ed. , de 1924. Tenho a 1ª ed., de 1922, assinada pelo meu avô paterno. Esta tem a particularidade de a capa, de autoria de Alberto....... *(aceito ajuda), representar uma ficção do almocreve António Malhadas, de Barrelas.
Posteriormente, em 1958, o Malhadinhas ganhou edição autónoma, acrescido de Mina de diamantes, e tem vindo a ser alvo de sucessivas reedições, nomeadamente, ainda em Setº de 2007, aquando das cerimónias da trasladação dos restos do escritor para o Panteão Nacional, em homenagem da Assembleia da República.
Filhas de Babilónia, nas três primeiras edições, compõe-se de três novelas: Os olhos deslumbrados; Maga das ruas e O derradeiro fauno.
Dela possuo a 1ª ed. de 1920 e a de 1959.
Convém ter as duas, pois esta última, das Obras Completas, traz uma Dedicatória a João de Barros, o historiador e co-director (com João do Rio, no Brasil) de Atlântida, a revista Luso-Brasileira na qual AR muito colaborou, e cujo nº 14 (raro, que tenho em minha posse), de 15/12/1916 traz o conto Caderno dum libertino, escrito em Paris em 1913, ademais mudando o nome da novela Maga das ruas para Maga, acrescentando a novela Frustração e desaparecendo O derradeiro fauno, porque em 1926 surge autónomo Andam faunos pelos bosques.
* a propósito dos ilustradores da obra aquiliniana, sem contar com este Alberto ....., já referenciámos 33, a saber e por ordem aleatória:
Abel Manta, Nikias Skapinakis, Manuel Lapa, Bartolomeu Cid, Eduardo Cruzeiro, Manuel Jorge, Dórdio Gomes, João Abel, Alice Jorge, Bernardo Marques, Paulo Guilherme, Jorge de Matos Chaves, Luís Filipe de Abreu, João Hogan, António Vaz Pereira, Leal da Câmara, Augusto Sereno, Maria Keil, João da Câmara Leme, Sá Nogueira, Lima de Freitas, Guilherme Casquilho, Martins Barata, Cândido Costa Pinto, Fernando Lemos, Benjamin Rabier, Júlio Pomar, Carlos Botelho, Clementina Carneiro Moura, Luís Dourdil, Aldina Costa, Stuart Carvalhais, Taciano da Costa (...?)

O pecado originário é o da multiplicação das vozes que já não conseguem reconhecer senão os seus próprios conceitos.

segunda-feira, maio 12, 2008

bibliofilia aquiliniana

Enriquecemos hoje o espólio com a 1ª edição de Anatole France (em repetição), conferência proferida por AR em 5 de Abril de 1923, com dedicatória autógrafa a Alexandre Vieira.
Esta é a 10ª obra do autor a ver o prelo, cujas primícias foram: Jardim das Tormentas (1913); A Via Sinuosa (1918); Terras do Demo (1919); Filhas de Babilónia (1920); Estrada de Santiago (inclui o Malhadinhas - 1922).
Não considerámos Valeroso Milagre e A Traição (opúsculos), Recreação Periódica e O Cavaleiro de Oliveira (pref. e trad.), de 1921, as duas primeiras, e 1922, as seguintes.
Também contamos com uma das últimas obras publicadas em vida do autor, à qual já fizéramos menção, No cavalo de pau com Sancho Pança, com autógrafo ao Cristiano Lima, em 1960, data da sua 1ª ed.
37 anos de prolífica produção literária as separam, a pujança, aos 38 anos, e a senectude, aos 75 anos. Pelo meio, mais de seis dezenas de títulos e uma inesgotável produção jornalística.




o aspecto novo de falar
é a fala só de alguns homens...

O mutismo pesa sobre o homem que perdeu a linguagem...

valor


o valor é o nome que se dá ao acto de dar forma
(dá-se forma à vida)

domingo, maio 11, 2008


no espaço da ausência
no vazio do outro
viceja a dor
-- Sou torpe e senhor de austera vilania, sorria amiúde, em parco dizer de afável candura...

granítica exogénese


(...) O relógio de porcelana trabalha ou não -- é impossível ouvi-lo abafado na redoma de cristal, e se trabalha perde o seu tempo, ninguém lhe liga nenhuma. (...)

José Cardoso Pires, O Delfim, Pub. Dom Quixote, 1999.
(...) agora todos eles andavam pelas mesmas calçadas que as cargas de Cavalaria tinham ensanguentado. (...)

José Cardoso Pires, Lavagante, encontro desabitado, ed. Nelson de Matos, 2008.
Então, para passar o tempo, pescam peixes não comestíveis; para impedir que estes apodreçam ao ar livre, foram espalhados cartazes ao longo das praias, nos quais se ordena aos pescadores que os enterrem na areia assim que os apanharem.

Claude lévy-Strauss, Tristes topiques
Demoiselles et Bons Garçons:
FODEI-VOS BEM FODIDOS
(Trad.)
Bom Dia!
É domingo...

Guilherme


O meu amigo Guilherme, no vital viço dos seus seis meses, olhando sereno o mar.
paisagens simétricas



sábado, maio 10, 2008

senescente matriz



blues singer


parada de birds


luar d'olvido
parcos de luz
corpos...

sabbatumexpo