sexta-feira, agosto 31, 2007
Nos derradeiros rochedos,
A deserta árida serra
Por entre os negros penedos
Só deixa viver mesquinho
Triste pinheiro maninho.
(...)
Aí, na quebra do monte
Entre uns juncos mal medrados,
Seco o rio, seca a fonte,
Ervas e matos queimados,
Aí nessa bruta serra,
Aí foi um céu na terra.
(...)
Que longos beijos sem fim,
Que falar dos olhos mudo!
Como ela viva em mim,
Como eu tinha nela tudo,
Minha alma em sua razão,
Meu sangue em seu coração!
(...)
A. Garrett, Cascais
quinta-feira, agosto 30, 2007
quarta-feira, agosto 29, 2007
Contra a obscuridade
O olhar desprende-se, cai de maduro.
não sei que fazer de um olhar
que sobeja na árvore,
que fazer desse ardor
que sobra na boca,
no chão aguarda subir à nascente.
não sei que destino é o da luz,
mas seja qual for
é o mesmo do olhar: há nele
uma poeira fraterna
uma dor retardada, alguma sombra
fremente ainda
de calhandra assustada.
Eugénio de Andrade
não sei que fazer de um olhar
que sobeja na árvore,
que fazer desse ardor
que sobra na boca,
no chão aguarda subir à nascente.
não sei que destino é o da luz,
mas seja qual for
é o mesmo do olhar: há nele
uma poeira fraterna
uma dor retardada, alguma sombra
fremente ainda
de calhandra assustada.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, agosto 27, 2007
domingo, agosto 26, 2007
reflexão
LIBERDADE (...) FACULDADE DE NOS SUBTRAIRMOS AO PODER, MAS TAMBÉM E SOBRETUDO A FACULDADE DE NÃO SUBJUGARMOS NINGUÉM (...)
(...) a escrita faz do saber uma festa (...)
Barthes, R. Lição, ed.70, Lisboa 79.
25 de Agosto + EPC
Porque o único horizonte do prazer do texto é aquele que Barthes nos indica :
"uma revolução radical, inaudita, imprevisível".
O que no movimento de cada revolução é sempre o objecto do nosso desejo.
E hoje (14 de Maio de 1974) uma vez mais.
Eduardo Prado Coelho, in prefácio a O Prazer do Texto, R. Barthes, ed. 70
"uma revolução radical, inaudita, imprevisível".
O que no movimento de cada revolução é sempre o objecto do nosso desejo.
E hoje (14 de Maio de 1974) uma vez mais.
Eduardo Prado Coelho, in prefácio a O Prazer do Texto, R. Barthes, ed. 70
sábado, agosto 25, 2007
a singela herança
no referente a jóias, entre decorativas e valiosas escravas arte nova, anéis diversos, fios, pulseiras, alfinetes, etc., estavam duas alianças extra plat, de volta dupla, adelgaçadíssimas.
percebi que eram para mim.
ambas à exacta medida do meu anelar.
o seu valor venal é inexistente, tal a sua finura e peso.
não têm preço quanto ao valor afectivo que lhe atribuí.
são as alianças de casamento dos meus avós paternos, ocorrido em 1917.
volvido o meio século de vida decreto usá-las até ao meu fim.
ut fata trahunt...
sexta-feira, agosto 24, 2007
quinta-feira, agosto 23, 2007
quarta-feira, agosto 22, 2007
terça-feira, agosto 21, 2007
segunda-feira, agosto 20, 2007
domingo, agosto 19, 2007
sábado, agosto 18, 2007
sexta-feira, agosto 17, 2007
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulcionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Soidões lacustres...
- Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas
Blocos de gelo...
- Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Camilo Pessanha, Clépsidras e Outros Poemas, ed. Anagrama, Porto, 1980
Do violoncelo!
Convulcionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Soidões lacustres...
- Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas
Blocos de gelo...
- Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Camilo Pessanha, Clépsidras e Outros Poemas, ed. Anagrama, Porto, 1980
quinta-feira, agosto 16, 2007
quarta-feira, agosto 15, 2007
Bravo! Baptista-Bastos!
Diário de Notícias, de hoje, transcreve-se com vénia
TORGA: ESQUECIDO E PRESENTE
Baptista-Bastos
escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt
Ainda bem que o Governo esteve ausente nas homenagens a Miguel Torga. O Governo não tem nada a ver com Torga. E, se pouco tem a ver connosco, nada tem a ver com a cultura. O Governo desconhece que a cultura é um dos interesses da política e que a política é uma disciplina da cultura. Embora ajam em esferas diferentes. Um político inculto possui algo de deformado. E um homem culto que se diz indiferente à política revela amolgadelas de carácter: mente porque, em rigor, defende pareceres desonrados. O Governo não se lê porque não lê. Para actuar em consonância com a ética da cultura seria necessário que pensasse culturalmente.
TORGA: ESQUECIDO E PRESENTE
Baptista-Bastos
escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt
Ainda bem que o Governo esteve ausente nas homenagens a Miguel Torga. O Governo não tem nada a ver com Torga. E, se pouco tem a ver connosco, nada tem a ver com a cultura. O Governo desconhece que a cultura é um dos interesses da política e que a política é uma disciplina da cultura. Embora ajam em esferas diferentes. Um político inculto possui algo de deformado. E um homem culto que se diz indiferente à política revela amolgadelas de carácter: mente porque, em rigor, defende pareceres desonrados. O Governo não se lê porque não lê. Para actuar em consonância com a ética da cultura seria necessário que pensasse culturalmente.
Não dei conta de nenhuma manifestação de desagrado, por módica que fosse, daqueles destemidos intelectuais, apoiantes discretos ou descarados deste Executivo. Aguardam benesses e sinecuras, atenções. Há ministros e adjacências que, habitualmente, fazem parte de júris de prémios, e para atribuição de "bolsas"; são "comissários" de feiras e de "embaixadas" culturais; designam adidos; decidem sobre quem vai ou não, aqui e acolá, representar a "cultura" portuguesa; os escolhidos pertencem sempre ao mesmo grupo, dispõem de idêntico sainete, cortejam iguais gostos, nomeiam os mesmos autores. Nada de correr riscos desnecessários.
Os destemidos intelectuais são brandos, cuidadosos, cautos, prevenidos. Também eles nada têm a ver com Miguel Torga, que nada teria a ver com eles. São paixões em tudo opostas, desordens do espírito só explicáveis pela natureza abúlica de uma gente que embaça e desacredita, moralmente, os testamentos herdados.
Observamos os nomes destes cúmplices no silêncio e certificamos que traíram os antecedentes, sem os substituir ou sequer lhes suceder. Os contemporâneos de Torga eram: Aquilino, Tomaz de Figueiredo, Jorge de Sena, Nemésio, Pessoa, Pascoaes, Miguéis, Almada, Raul Brandão, João de Araújo Correia, Ferreira de Castro, Régio, Casais Monteiro, Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca, Domingos Monteiro, José Gomes Ferreira, Armindo Rodrigues, Eugénio de Andrade, Sophia, Redol, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Irene Lisboa, Maria Judite de Carvalho, Abelaira, Mário Dionísio, Namora, José Cardoso Pires. Foram estes que, em diversos momentos, reafirmaram o perfil da pátria medular e cívica.
Em meados dos anos de 60, Jorge Amado, de visita a Portugal, encontrou-se com Ferreira de Castro, amigo de sempre. A RTP quis fixar o momento. Com altiva dignidade, Castro apostrofou: "A televisão, que ignorou Mestre Aquilino, não me filma, certamente, porque a proíbo!" Esta gente era a minha e a nossa gente.
Nota:
Recebi via mail, do Baptista-Bastos, um sublime artigo para publicar na "Letras Aquilinianas" de Setembro, subordinado ao título UM SER DAS ALTURAS E À ALTURA DOS SONHOS DOS HOMENS. Depois aviso onde podem comprar...
convite para almoçar...
ementa:
1 motilium
perú, omoleta e pão torrado da véspera
tomate e pepino com sal e vinagre
pão
melão
1 chávena de café caseiro
segue-se continuação do estudo de "Um Escritor Confessa-se", de permeio com um feriado trocista e cínico de estival intempérie repicando na telharia
acompanha-se, de fundo, com Quinteto K452; Trio 'Kegelstatt', K498; Adágio e Rondo, K617 e Adágio K356 de Mozart (estas últimas em maravilhosa harmónica de vidro).
Não têm de quê!!!
terça-feira, agosto 14, 2007
segunda-feira, agosto 13, 2007
canto escuro
Introdução:
Dia 13 sem graça que lhe assista nem desgraça que lhe venha…
Desenvolvimento:
1. Há dias em que a brisa gera atritos e o sol inércias
2. No corpo lasso ossos e músculos não se articulam
3. O olhar perde o élan do horizonte e cai só no ocaso
4. As mãos ansiosas nos bolsos buscam esconso abrigo
5. Os dentes cerram-se com a força hirta das maxilas
6. As palavras escondem-se na garganta negra depuradas
7. Um sono profundo alivia ardores alvares do olhar vil
8. O corpo tenso nas tábuas duras do chão acha repousos
9. A cabeça liberta espasmos rés aos fundos da água fria
10. E lá enfim no mor silêncio azul tudo se concilia álgido
Conclusão:
Há dias assim com alvoradas tardes e noites de longas quase infindas
Como a peregrinação que não vê chegada a meta aos pés esfacelados
Nem a ara de veio azul do granito musgado à mão carente de a tocar
Dia 13 sem graça que lhe assista nem desgraça que lhe venha…
Desenvolvimento:
1. Há dias em que a brisa gera atritos e o sol inércias
2. No corpo lasso ossos e músculos não se articulam
3. O olhar perde o élan do horizonte e cai só no ocaso
4. As mãos ansiosas nos bolsos buscam esconso abrigo
5. Os dentes cerram-se com a força hirta das maxilas
6. As palavras escondem-se na garganta negra depuradas
7. Um sono profundo alivia ardores alvares do olhar vil
8. O corpo tenso nas tábuas duras do chão acha repousos
9. A cabeça liberta espasmos rés aos fundos da água fria
10. E lá enfim no mor silêncio azul tudo se concilia álgido
Conclusão:
Há dias assim com alvoradas tardes e noites de longas quase infindas
Como a peregrinação que não vê chegada a meta aos pés esfacelados
Nem a ara de veio azul do granito musgado à mão carente de a tocar
domingo, agosto 12, 2007
de Lamego ao Pinhão e a Sabrosa
...E cheguei a Lamego. A pobre cidade esventrou-se e mostra de si entranhas que não cativam visitantes. Quis ir à Serra das Meadas e cortaram-me acessos. Nem uma placa, porque somos todos muitos sabedores de atalhos e desvios. Subi aos Remédios, peregrinação que mal faltaria ao Caminho... Erro. Gente a mais. Carros por todo o lado. O parque mal cuidado ou melhor, descuidado. Fui à Sé. Deserta às 16:00. Assim a quis e a tomei. A Sé dos vitrais, das epigrafadas filigranas, de cúpulas a cerúleo e ocre decoradas de belos frescos, púlpitos de um barroco eloquentes, austera torre sineira de relógio no tempo detido a permeio de erva maninha e a austera fachada, sisuda e tristonha da qual sempre tanto gostei...
Ala, na dança estreitada da contra curva e curva, caminho da Régua a visitar a Igreja proto-histórica de Balsemão, afluente do Douro ancho. Nada, depois da placa inicial e de alguns quilómetros de carreiral entre muros bisonhos de quintas soturnas, nada. O trilho acaba. Não há um sinal. Em frente, o rio e os pilares das pernilongas pontes da nova estrada. Retiro e a refilar, rogando pragas aos edis ignorantes das raizes identitárias de uma Terra. Que ainda por cima, tem um lugar especial num cantinho do meu coração, do final da década de 80...
Colado ao Douro, altivo e argentino, subi ao Pinhão e... mais mal contados 20 quilómetros, avistei Sabrosa. E lá no alto, virado para as Meadas, olhando no espaço o sítio onde cri S. Leonardo de Galafura, recitei:
À proa dum navio de penedos,
a navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Ordonho, 1961
Nota I:
Hoje, às 21:05, a RTP 2 apresenta um programa de 50' sobre Torga.
Nota II:
O notável co-fundador do PS, Luís Arnaut, invectivou o governo por não se ter feito representar nas Cerimónias do Centenário do Poeta. Ainda bem, dizemos nós. Este governo não rima com Torga, com Liberdade e com a Humildade dos que, para sempre, perdurarão no respeito pelos Ideais da Democracia.
Nota III:
Comprei atrás da Sé uma bola de carne ressumbrando do forno, e uma caixinha de biscoitos de manteiga, delgadinhos e deliciosos, como fazia a tia-avó TITÓ-I.
Nota IV: Desculpem-me os amigos lamecenses MJQ e JC, mas eu queria tanto escrever bem da Vossa Terra....
sábado, agosto 11, 2007
Ar Livre
Nota de Culpa: Dia 12 é amanhã... Peço Desculpa e deixo de JC o mail recém recebido:
"Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!
Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe,
Desligado do cordão!
Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!»
Miguel Torga, Cântico do Homem, Publicações Dom Quixote, 1950.
Abraço, jc
Gostei de ver o Torga no "Brevitas" (mas, não era só amanhã?!).
Agora que a liberdade anda de novo hipotecada e novos senhores se perfilam para cuidar das nossas consciências, o "Poema", o único poema que devemos repetir até à saciedade, difundindo-o por todos os meios ao nosso alcance, enquanto tenebroso for o dono do rincão é – e por certo concordarás – "Ar Livre". Torga sendo otorrino, preocupava-se com os sintomas de claustrofobia. A montante, tudo se joga por aí. Ar livre, por tanto:
"Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!
Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe,
Desligado do cordão!
Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!»
Miguel Torga, Cântico do Homem, Publicações Dom Quixote, 1950.
Abraço, jc
Miguel Torga nasceu há 100 anos
Inédito do artista plástico viseense, Pedro Albuquerque.
Hoje faria 100 anos este grande escritor e indefectível democrata, tantas vezes censurado, perseguido e preso pela Pide. Miguel, como Unamuno, que muito admirava, e Torga como as raizes das plantas das terras áridas que ao fundo da terra têm que ir buscar o alimento, e ninguém por mor delas da terra arranca (assim metaforizando o seu carácter profundamente telúrico).
Deixo um texto de 1981, titulado Depoimento, em jeito de balanço final, como exemplo de uma vida íntegra, de lutador, vertical e inconformado:
De seguro
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.
No dia 12 de Agosto de 1907, em São Martinho da Anta, Sabrosa, concelho de Vila Real de Trás-os-Montes, nasceu Adolfo Rocha. Sob o pseudónimo de Miguel Torga, o médico otorrino com consultório no Largo da Portagem, em Coimbra, deixou-nos vasta produção literária, em re-edição de Centenário pela Dom Quixote, principalmente de poesia, contos, teatro, ensaios e discursos.
Muita da sua poesia está compulsada in Antologia Poética (1981). Os Diários, do vol. I (1941), ao XXV (1993), como escrita autobiográfica, foram, talvez, as suas mais conhecidas obras. Destacamos, ainda, ao acaso, Orfeu Rebelde (1958); Bichos (1940) Terra Firme, teatro (1941) e Portugal (1950).
Tive o prazer de o conhecer pessoalmente e de ser aluno de sua esposa, a professora (belga) Andrée Crabée, que publicou as minhas primícias literárias, em 1986, nos Cadernos de Literatura, e também sua filha Clara Crabée Rocha, na FLUC.
Hoje faria 100 anos este grande escritor e indefectível democrata, tantas vezes censurado, perseguido e preso pela Pide. Miguel, como Unamuno, que muito admirava, e Torga como as raizes das plantas das terras áridas que ao fundo da terra têm que ir buscar o alimento, e ninguém por mor delas da terra arranca (assim metaforizando o seu carácter profundamente telúrico).
Deixo um texto de 1981, titulado Depoimento, em jeito de balanço final, como exemplo de uma vida íntegra, de lutador, vertical e inconformado:
De seguro
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.
sexta-feira, agosto 10, 2007
quinta-feira, agosto 09, 2007
quarta-feira, agosto 08, 2007
terça-feira, agosto 07, 2007
E da rútila boca da tão bela quanto esbelta Ama, este dizer troante em sussurro se aclarou:
-- " A nossa paixão nasceu arrebatada, escaldante, confusa, violenta, embrulhada mas é um fruto muito salubre e sumarento. Vamos cuidar para que amadureça e se cumpra. Este é o meu desejo."
E à vontade imperiosa assim decretada, humilde, submisso, fenhador, se rendeu sem palavras nem actos contrários à evidência pelos jubilosos corpos tão alardeada.
Ajoelhou. Com o fino aço toledano no corpo agraciado, fronte baixa no erecto porte, sagrado foi, pelo tempo de uma vida, Cavaleiro da Ordem da Invicta Torga à Terra Dada.
Margot Olivier, Ressumbrar do Xisto, ed. Bruma, Vilar d'Além, 2007
Aquilino Ribeiro
Aproximam-se a passos muito largos duas datas relevantes:
1ª : O dia 13 de Setembro, em que a Confraria Aquiliniana intenta comemorar condignamente o 122º aniversário do nascimento do Mestre, inclusivé com a publicação do nº extraordinário da revista "Letras Aquilinianas", que aprontamos;
2ª: O 19 de Setembro, em que ocorrerá a trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional.
Periodicamente, daremos notícia. Agora, deixamos fotografia inédita, datada de 05/12/1921, tirada na Biblioteca Nacional, aos 36 anos de Aquilino, que nos foi gentilmente enviada pelo Senhor Jorge Nunes, de Lisboa.
Nota: Ignoramos quem é o cavalheiro à esquerda. Agradece-se contributo elucidativo.
segunda-feira, agosto 06, 2007
Eu não sou aquilo que pareço. Ninguém é aquilo que parece.
Seria preciso sermos todos inocentes.
Quintela, M. J., Um olhar não basta, publ. Pena Perfeita, 2006
Seria preciso sermos todos inocentes.
Quintela, M. J., Um olhar não basta, publ. Pena Perfeita, 2006